Fala-se muito na barragem do Sabugal, devido à seca e à continuação dos transvases para o regadio da Cova da Beira. Mas quanto a quem tornou a albufeira numa realidade e qual a sua real importância para o concelho do Sabugal, há muito a esclarecer.
À boleia da contestação à deficiente gestão da água da barragem em tempos de seca, alguns opinadores vieram à babujem para desvalorizar a importância da barragem, afirmando que foi construída para beneficio de outras terras, em detrimento do concelho do Sabugal.
Ignoram, ou esqueceram, o que era a vida nas aldeias do Sabugal há 20 anos, quando a barragem ainda não existia. O Verão trazia um problema grave, que parecia insolúvel – a água faltava nos domicílios e, se alguma havia, era racionada, com enorme prejuízo para a vida das pessoas. Valiam os bombeiros – esses heróis que diariamente conduziam os autotanques em socorro das aldeias, levando-lhes a seiva da vida.
Quando veio a barragem, o problema da carência de água deixou de existir. Essa bênção, por si só, faz ver que a albufeira era necessária e que foi extremamente útil para os povos das nossas terras.
O empreendimento era prometido e sempre adiado. Campeava a teoria do efeito difusor do desenvolvimento – investir nas zonas economicamente mais dinâmicas, era a via certa para a disseminação do progresso por todo o país. A centralidade da aplicação dos fundos vindos de Bruxelas, não foi inocente. Era uma estratégia desenvolvimentista que tinha eco nos principais teóricos, e nos políticos que tiveram o poder naqueles anos. Cavaco Silva foi fiel executor dessa política que ignorou o interior, agravando o fosso inter-regional.
Quem, do Sabugal, enfrentou abnegadamente essa «visão» foi o então deputado Carlos Luís, com constantes interpelações ao governo, vindas ao terreno, entrevistas incómodas e pressões nos bastidores em defesa do investimento no interior, dando como grande exemplo a construção da barragem do Sabugal.
Salvou-nos António Guterres. O actual secretário-geral da ONU ganhou as eleições em 1995, formou governo e começou a construção da barragem do Sabugal em 1997, sendo inaugurada em 1 de março de 2000.
A Beira Interior, deve muito a Guterres: construiu a A23, as barragens do Sabugal e de Alfaiates, o Centro Hospitalar da Cova da Beira, a Faculdade de Medicina na UBI, a electrificação das linhas férreas da Beira Baixa e da Beira Alta.
O seu a seu dono, é o que se pode dizer a quem quer reescrever a história.
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«Contraponto», de Paulo Leitão Batista
Caro Carlos Ribas se ler as conclusões da “Audição Publica : Albufeira e Recursos Hidricos do Sabugal” vai identificar-se com o texto!
Ainda não li, mas quero ler. Obrigado
Políticas à parte, sem margem para duvidas que, se houve investimento e preocupação com o desenvolvimento na Beira Interior, foi António Guterres e o PS que nos valeu. Por outro lado enquanto houve governos PS, independentemente dos seus lideres, pode-se constatar que nunca foram retirados alguns benefícios de valorização do interior, como era o caso das SCUT. MAs assim que entrou o PSD, com Passos Coelho, o que aconteceu? Reverteu-se de imediato um direito de discriminação positiva relativamente ao interior, com todos os prejuízos e custos que tal medida representou e continua a representar para todo o nosso interior.
Amigo, muito do que aqui referes está correto, no entanto, vejo que muitos dos aqui comentadores não conhecem o Rio, nem o estado em que está, desde o nascente, até ao inicio da albufeira, da tão contestada ou querida barragem.
Ninguém se lembra, que a água que faz da barragem um mar de água vem das freguesias de Fóios, Vale de Espinho, Quadrazais e Malcata, acontece que o Rio deixou de o ser para ser um simples rego. Infelizmente, como todos sabemos, as nossas terras (lameiros e hortas) estão abandonados, a agricultura já nem a de subsistência existe e os grandiosos Moinhos estão doentes e muitos já mortos. Alertei várias entidades (a titulo particular) ao longo destes anos para o “terramoto” que o abandono das terras e dos moinhos causaria no leito do Nosso Rio, recebi muitas respostas e muitas promessas, nada aconteceu, ou aconteceu, os açudes, que deveriam ser os pequenos reservatórios para abastecer a Nossa barragem, estão abandonados, caídos, rotos…..infelizmente, quando os vejo, sei que as minhas lágrimas não são suficientes para os encher…..enfim, onde estão as minhas amadas trutas???, os amieiros e outras arvores, que por falta de água nas raízes, morrem todos os dias…..que revolta!!!!
Ajudem-nos, por favor!!!!
De que falha fala?
O tempo dirá de quem foi a falha.
António Emídio
Sabes ao que tenho medo José carlos ? Que transformem este interior numa pequena Amazónia, em que grandes grupos económicos e outros não tão grandes, mas ao serviço de multinacionais, levem daqui o pouco que temos. E a primeira vitima é a Democracia.
António Emídio
Sinceramente não percebi Antonio Emidio … falha minha!
Deus me livre pôr em causa os Malcatenhos e o seu apego à Democracia ! O meu receio é que este abandono do interior se transforme num feudo de grupos económicos e até mediáticos que muitas vezes assumem o papel de oposição, e defendem interesses que não os dos cidadãos. Eu escrevi se transforme, porque infelizmente o interior está cheio de caciques e galopins, mas dos de trazer por casa.
António Emídio
Compartilho que o voto é um dever! Não votar é uma lesão á democracia. Mas neste caso houve que atender a outro valor! Dar visibilidade e palavra a uma causa local! Uma causa justa! Uma causa alinhada com o discurso politico vigente! Uma causa incómoda que muitos pretendiam que passasse ao lado da campanha eleitoral! O que são 400 eleitores? Mais vale ocultar que evidenciar …. Agora diga-me Antonio Emídio se não fosse anunciada a “abstenção” quem ia ligar a Malcata? Acha que as TVs iam pegar no tema? A vida é mesmo assim! Por vezes temos que optar entre valores! Foi um a pequena lesão sim, mas os malcatenhos prezam muito a democracia!
Amigo Leitão :
Por causa de um problema trazido pela mudança climática, ou seja a falta de água, e talvez por outro que foi a má distribuição de água da barragem, não é preciso chegar ao ponto de atingir ainda uma jovem Democracia no seu cerne, no seu coração, não permitir a Liberdade de Voto, poderão dizer que é uma mentira o que eu estou a dizer, só não votou aquele que não quis votar, acredito, mas também acredito que muita gente se sentiu coagida, já viste o que é uma aldeia onde toda a gente se conhece e ir votar talvez depois de uma campanha anti-voto ? Porque a vontade de não ir às urnas não surgiu em todos os habitantes ao mesmo tempo por obra e graça do Divino Espírito Santo…
Tantos homens e mulheres que durante quarenta anos lutaram, e alguns deram a vida pela Liberdade de Voto, pela Democracia, mereciam mais respeito. Não escrevi para aqueles que queriam exercer o seu direito, nem para os que foram coagidos. Podiam muito bem votar todos em branco, votar em branco significa protesto, não ir ás urnas tem outro significado…
António Emídio
António Emídio…
Votar é um direito mas acima de tudo um dever. Concordo que podiam votar em branco mas…
…o que está (estava) em causa é a água que faz falta a todo o concelho do Sabugal!
Parece-me que o mais importante não é dito. A população da Malcata não foi votar (ou devia votar em branco) mas…
…e a população das outras freguesias? A água só faz falta a Malcata???
Ridículo e grave falta de solidariedade em defesa de um problema que é de todos!
Ele há coisas…
Caro José Lages, não é apenas Malcata! A AMCF promoveu uma audição publica sobre a albufeira e recursos hidricos no Sabugal onde tratamos o problema na globalidade. A iniciativa foi muito participada e teve grande amplificação nos orgãos de comunicação locais… pena que não tenha estado presente!
O facto de persistirem alguns problemas pontuais no abastecimento de água à população, pela falta de soluções técnicas ou por mera conjuntura sazonal, não invalida que a barragem foi uma grande obra em favor do concelho do Sabugal. Sem a irrigação da Cova da Beira talvez nunca tivesse sido construída – essa é uma verdade incontornável, mas nada hoje se compara com o problema gravíssimo da falta de água de há 20 anos.
Outra coisa é a má gestão do transvase, onde julgo que estamos de pleno acordo.
Mas, reitero que Guterres foi um grande amigo e defensor da Beira Interior e que a barragem do Sabugal foi a maior obra pública em favor do concelho realizada nas últimas décadas. Não há outra que a iguale.
Criticar a gestão do transvase é justificável, e junto a minha voz a essa luta, mas desvalorizar a grande obra pública realizada em favor do Sabugal é absolutamente inapropriado.
O Sabugal tem muito a ganhar com o bom aproveitamento da barragem. Malcata reclama um paredão, que está previsto, e que é fundamental para que a freguesia retenha água em seu benefício. O concelho do Sabugal reclama o aproveitamento da albufeira para fins lúdicos, porque tal é importante para a valorização do filão turístico. Os concelhos a jusante precisam de água na barragem para abastecimento das populações e para a irrigação dos campos agrícolas – há canais de rega instalados que, infelizmente, não são utilizados por não haver uma política de apoio ao desenvolvimento agrícola no concelho do Sabugal.
Reclamemos a boa gestão da água, mas sem querer derrubar a barragem.
paulo leitão batista
Caro Paulo Leitão, não estás enganado! Subscrevo na íntegra.
Suponho que ninguém põe em causa o valor de Guterres. No entanto este falhou na análise em detalhe pois com a interrupção da construção da barragem de Foz-Coa deveria ver que o papel da barragem do Sabugal passava de mero ponto de passagem da água para principal fornecedor deste bem, sem ter em conta as reais necessidades da população deste Conselho e outros situados a jusante do Sabugal.
Amigo Leitão :
Tu sabes bem que uma mentira repetida é uma verdade consentida.
António Emídio
Caro amigo Paulo Leitão, engana-se! Com a barragem o problema da carência de água continua a existir! Em 2019, ano de seca moderada, a água continua a faltar em muitos domicílios de algumas aldeias, nomeadamente Malcata! Em pleno Sec XXI os bombeiros continuam a abastecer aldeias! 45 anos após abril! A barragem tem água suficiente para abastecimento publico sim! Mas falta o investimento em captação e distribuição para atender a todas as necessidades das populações! Por isso o grande beneficio da barragem para o Sabugal (o abastecimento publico) está longe de ser pleno!
Por outro lado, o efeito difusor de desenvolvimento tarda em aparecer!
Concordo em absoluto que António Guterres fez muito pelo Interior! Em particular foi “grande e generoso” para a Cova da Beira. Mas quando determinou a interrupção da construção da barragem de Foz – Coa (onde os custos incorridos foram de 125 Milhões de euros) condenou o Sabugal! Essa é outra VERDADE … E o GRAVE é que os representantes eleitos locais DEIXARAM, caro Paulo Leitão!