Os judeus de Constantinopla disputavam com os muçulmanos a perfeição das suas religiões. Falando-se a respeito do paraíso, os judeus não tinham pejo em afirmar peremptoriamente que eles seriam os únicos que nele haviam de entrar.
Essa argumentação não agradou aos muçulmanos, que perguntaram:
– Onde julgais que seremos colocados?
– Fora das muralhas do Éden, e dali nos olhareis – responderam os judeus, não se atrevendo a dizer que os turcos seriam excluídos até da vista do paraíso.
Chegou o assunto aos ouvidos do Grão-vizir, que viu naquela disputa um oportuno pretexto para sobrecarregar os judeus com um novo tributo.
E disse assim aos seus ministros:
– Se essa canalha nos quer colocar fora do recinto do paraíso, olhando de longe para as muralhas, é justo que nos forneçam as tendas, a fim de não ficarmos desabrigados.
Vai daí, os judeus viram-se sobrecarregados com a cobrança de mais um imposto, destinado a custear as tendas do grão-senhor.
É caso para dizer que pela boca morre o peixe.
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Paulo Leitão Batista, «Histórias de Almanaque»
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