Tal como a tourada espanhola, onde nem sempre morre o touro, temo que em Portugal a tourada venha a ser um dos motes políticos da próxima campanha eleitoral. E, mais uma vez, coincidência ou não, uma luta entre a tradição de muitas localidades do interior contra o pensamento do litoral. Mesmo terras como Setúbal, Moita, Alcochete ou Montijo, poderão não ser suficientes para equilibrar este «jogo» que até pode ter o «cunho» de Bruxelas.

Li outro dia num jornal que os principais líderes políticos andam preocupados com as touradas. E alguns já decidiram não as apoiar publicamente, neste período eleitoral que se avizinha, e deram indicações para destacados militantes aficionados não se manifestarem.
Ao princípio até parece uma tontice, mas quem quer ganhar tem de ponderar todos estes aspetos, e o povo do interior, Raiano e Alentejano, pouco conta no números dos futuros deputados eleitos.
Esta injustiça não olha à tradição e cultura das gentes e, na minha opinião, é mais um erro que contribui para a aculturação da cultura portuguesa. Mas na realidade a luta política muitas vezes não se compadece porque o objetivo é vencer.
Como já tenho escrito não sou um aficionado. E em miúdo, talvez por ser obrigado a ir assistir a corridas de touros, detestava o espetáculo. Porém, com o tempo e degradação cultural que vamos assistindo lentamente às tradições portuguesas, comecei a olhar para o touro de lide com outra postura e a ver, tal como os adeptos do futebol, como as gentes vibram e vivem a festa taurina.
Sinceramente não sou veterinário para saber se o touro sofre, mas acho que se esse é o problema tem de se arranjar uma solução. Porque a tourada e a capeia não é apenas o touro, é o povo que também participa na festa, e a arte do toureio ou do forcão, que torna a «luta» um jogo ente humanos e animais. E quantas vezes os humanos se aleijam, ou morrem, sem, contudo, a festa taurina acabar.
Bater num animal obviamente é condenável e concordo com a penalização. Tal como o abandonar. Porém o touro, em Portugal, não é espicaçado ou torturado, e entre as corridas goza do lazer do campo e do bom pasto, para ter boas condições físicas para o que o espera.
Concordo que o papel do veterinário deve ser mais relevante, nomeadamente nas condições de transporte dos animais, da alimentação antes da corrida e na necessidade do animal descontrair antes do evento em campo aberto. E efetivamente, nesse aspeto, tenho notado, nalguns casos, pouco cuidado.
Mas este meu parecer pouco favorável não fundamenta a irradicação do espetáculo. Deveria sim ser o que a sensatez, através de legislação, deveria estabelecer.
Julgo que o animal sofre mais com as condições de transporte e de logística, antes das corridas, do que concretamente com espetáculo em si.
No caso das Capeias Arraianas, os touros são logo retirados do reboque e correm pelas ruas das aldeias, com o controle dos cavaleiros. Considero uma boa prática, porque qualquer um de nós necessita, depois de uma viagem, de uma pausa de relaxamento.
Tenho esperança que a força da tradição acabará por vencer o jogo político. E todos sabemos que uma coisa é a campanha eleitoral e outra é a realidade da governação.
No entanto, mais uma vez, cada um fala por si. E essa partição de opiniões, de protagonismo, pode ser fatal numa das tradições mais seculares de Portugal.
Seria bom que, pelo menos no Sabugal, se começasse a arregaçar as mangas para o futuro que se avizinha. Porque a Capeia Arraiana, nos tempos que correm, já não é só das terras da Raia. É também património de Portugal!
Moura, 5 de Agosto de 2019
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
Há um regulamento para o transporte de animais vivos, que contempla a alimentação e o abeberamento dos mesmos, consoante a distancia percorrida.
No RET (Regulamento do Espetáculo Tauromáquico), também é referido no Artg. 31, o transporte, descarga e alojamento das reses.
Saudações …raianas !