O amor ao estudo, se levado ao extremo, pode absorver a atenção das pessoas de letras para além do razoável. Há os que, estudando e reflectindo, nada ouvem nem veem, para além do assunto que têm em mente e ao qual se dedicam desmesuradamente.
Frederico Morel trabalhava afincadamente na sua tradução de Libânio, quando lhe vieram participar a enfermidade grave da sua esposa, que desejava falar-lhe.
– Não me faltam mais do que dois períodos para traduzir e transcrever, mas logo que conclua irei imediatamente – disse ele.
Voltaram, e disseram-lhe que se não demorasse tanto porque ela estava no leito de morte, na última extremidade.
– Estou quase concluindo, pouco me falta. Voltai e dizei-lhe que não me demoro.
Enfim, vieram participar-lhe que a esposa tinha expirado.
– Morta! Sinto-o infinitamente. Era uma boa mulher.
E continuou o seu trabalho.
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Paulo Leitão Batista, «Histórias de Almanaque»
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