:: :: DIRÃO DA RUA :: :: Nome invulgar que causa estranheza! Vou tentar explicar!
A lenda diz que um indivíduo ergueu uma parede para se abrigar do vento, que aqui existe em abundância, mas quando o vento mudou de direção teve necessidade de construir outra e assim sucessivamente, até ter quatro. Terminada esta etapa meteu-se dentro e disse:
– Que dirão os da rua?
Assim terá nascido o nome da povoação!
Contam os mais velhos que todas estas serras, hortas e hortinhas eram dos senhores de Sortelha. Ou seja, segundo esta versão, tudo isto era uma propriedade senhorial! Os quinteiros e trabalhadores, na medida das suas possibilidades, foram comprando pequenas parcelas. Os rendimentos destes servos só possibilitavam a compra de pequenas propriedades; o relevo acidentado, que obrigou à construção de paredes, e a necessidade de dividir o melhor e o pior por todos resultou nas inúmeras hortas e hortinhas.
O mesmo processo terá ocorrido com a compra/arrematação dos baldios. Desta forma se explica a existência do minifúndio! Com estas propriedades e a pobreza do solo dificilmente alguém conseguiria enriquecer.
A servidão para com Sortelha
Os habitantes iam trabalhar, ao serviço de Sortelha, para arranjar os caminhos, levando mesmo juntas de bois! Estas corveias arrastaram-se até cerca de 1960, resultando num certo ódio/aversão, das gerações que me precederam, para com o poder local. Tudo isto pode servir de exemplo para mostrar o atraso económico que aqui se vivia! As consequências foram a emigração, desertificação, envelhecimento da população e abandono dos campos.
O que nos dizem os documentos?
Nesta longa viagem, pelos arquivos paroquiais de Sortelha, encontrei os nomes seguintes: Nos séculos XVI e XVII: Quinta do Duram da Rua e Durão da Rua; nos séculos XVIII e XIX: Quinta do Diram da Rua e Dirão da Rua (esta divisão temporal é flexível, na mesma época podemos encontrar escrito de modo diferente).
Há cem anos ainda se dizia «Quinta do Dirão da Rua». Com o aumento do número de habitantes, até meados do século XX, deixou de se utilizar a palavra Quinta, ficando só Dirão da Rua.
Conclusão
Houve aqui uma quinta pertencente a um aristocrata de Sortelha, tendo ficado conhecida como quinta do Durão da Rua, que seria o nome do rendeiro ou do senhorio e que deu o nome ao lugar, podendo parte do nome derivar do apelido ou alcunha!
A avaliar pelos caminhos velhos existentes, tudo indica que era um ponto de passagem obrigatório para os que se dirigiam para Sortelha, vindos de diferentes locais: Guarda, Vila do Touro, Pousafoles do Bispo…
Seria bom que os responsáveis políticos locais tivessem consciência desta realidade!
Assim, deveriam promover uma política de proximidade através de atividadecs que reforçassem e promovessem o sentimento identitário da região.
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«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
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Segundo Rolinho Pires (Os cabeços das maias, p. 67) Dirão tem origem em Tirano