Há uns bons oito a dez anitos, escrevi no blogue da minha terra umas linhas sobre o local de construção da igreja da aldeia. E aqui mesmo, já falei deste assunto há uns cinco anos. Sabe que esta igreja podia ter sido construída noutro local? E sabe por que razão foi construída onde está? Vamos lá averiguar isso tudo, OK?
Devia estar-se aí pelos anos 80 ou 90 do século XIX…
Haveria então no Casteleiro – como em todo o País – dois partidos principais, ambos monárquicos ainda (já começava a aparecer lá para Lisboa o Partido Republicano, mas por aqui ainda era cedo): um mais conservador e outro mais modernaço. Para a altura, claro. E cada um tinha o seu chefe, como era hábito no País.
Os dois chefes, «como mandavam as normas», nem se podiam ver. As famílias chegavam a insultar-se de quintal para quintal, lá atrás. E as famílias vizinhas a apreciar tudo.
Isso passava-se, digamos, das traseiras do actual Centro para as traseiras da casa que depois foi do Sr. Manelzinho Fortuna. Mas o pior eram as relações políticas e não só entre os chefes políticos e os seus apoiantes.
Igreja velha, igreja nova…
Como em cada localidade do resto do País, nesses idos de 1880/1890, esses dois «chefes de partido» eram pessoas das mais influentes da aldeia. Havia muita luta entre os partidos da época.
Ora o que é que isto tem a ver com a igreja? Tem tudo e já veremos porquê.
É que ambos os partidos – ou melhor, os seus chefes – queriam oferecer terreno para a construção de uma igreja, uma vez que a igreja matriz da época (a capela do Reduto, dedicada ao Espírito Santo) era já muito pequenina. Mas há mais. Acresce que, no local onde hoje está a igreja matriz ou igreja paroquial, estava ainda o cemitério e uma capela.
Ora uma lei liberal de 1834 tinha proibido os enterramentos dentro das localidades. Por isso, colocava-se à data um duplo problema: construir uma igreja matriz maior e transferir o cemitério para fora da aldeia. O cemitério foi então criado no local onde hoje está e os corpos trasladados.
O local de construção da nova Igreja Matriz
Mas… e a nova igreja? O que é que as lutas entre os partidos têm a ver com a nova igreja? Pois conta-se na nossa tradição oral que a coisa foi assim: o chefe do partido conservador ofereceu para a nova Igreja um terreno junto do cemitério da época, mesmo no sítio onde agora está de facto a Igreja Matriz; e o chefe do outro partido terá adiantado outra oferta de terreno: queria que a igreja fosse construída no terreno a que chamamos «Miranda». Cá em cima, onde depois foi instalada e onde ainda se encontra a cabina eléctrica, à beira estrada.
Dizem que o povo foi a votos e que ganhou o local lá de baixo. Eu não acredito que houvesse uma verdadeira votação de braço no ar em pleno final do século XIX. O que deve ter acontecido é que a maioria das pessoas, o pároco e os seus mais próximos seriam também mais próximos do partido mais conservador e assim se terá decidido construir a igreja ao lado do sítio onde estava o cemitério da época (que julgo que ficaria lá atrás, no adro de acesso ao Coro).
E assim ficámos com a Igreja Matriz do Casteleiro naquele local mais antigo e mais histórico onde está hoje.
A torre
Há também uma história que ouvi nas férias à lareira sobre a construção da actual torre, que não vem de 1880-90 como a igreja mas sim de 60 ou 70 anos depois. Mas essa história fica para outra crónica, que esta já vai longa.
Um dia destes, conto-a aqui também outra vez…
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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