Recordo que as quintas anexas do Casteleiro eram: Gralhais, a Vila Mimosa (esta que hoje rememoro), o Anascer, a Carrola, e Santo Amaro.

Como digo, as quintas anexas do Casteleiro eram muitas. Algumas com apenas dois ou três moradores. Outras com algum peso.
Recordo-lhas todas:
– Gralhais, lá para a fronteira com a Benquerença;
– A Vila Mimosa, mesmo ali do lado de baixo da Escola Nova (a das raparigas): era a quinta da Senhora Dona Maria do Céu – ou, simplesmente: «a Quinta da Senhora»;
– as Quintas do Anascer, com muita vida agrícola;
– Valverdinho, a quinta mais afastada, já em direcção a Caria;
– a Carrola, com algumas famílias bem arreigadas;
– e, claro, Santo Amaro, a quinta do «Dr. de Santo Amaro» e estava tudo dito!
A Senhora da Quinta / A Quinta da Senhora
Quem é do Casteleiro e tem mais de 40 anos sabe que a pessoa mais poderosa e mais respeitada da terra era a Senhora da Quinta. Antes, fora também muito respeitado a admirado o seu marido, o Dr. Guerra. Nesta breve crónica, fica algo que não é novidade: um dia alguém devia estudar a sua vida também e dar-nos a conhecer tudo.
A Senhora D. Maria do Céu era Mendes e Guerra por casamento com o Dr. Joaquim Mendes Guerra, e era Barreiros por nascimento. Seu irmão, Padre Barreiros, foi, como se sabe o seu herdeiro único. A Senhora da Quinta era a dona de metade da aldeia. A Quinta das Mimosas (a que chamávamos apenas «a Quinta») era um foco sempre considerado como exemplo fosse para o que fosse: o azeite, a missa, as visitas eclesiásticas, as «cunhas» para um bom emprego – isto para falar apenas de alguns dos assuntos em que o foco estava sempre lá: na Quinta e, mais propriamente, na Senhora da Quinta.
Era seu marido o conhecido Dr. Guerra, lavrador combativo e criador e fundador do jornal «Gazeta do Sabugal», em 1926.
Influência eclesiástica
Impossível falar da D. Maria do Céu sem referir a sua influência na estrutura da Igreja na Guarda e Castelo Branco. Só semelhante à influência que, por via de amigos de grande influência regional e não só, mantinha em matérias como a obtenção de um posto de trabalho – fosse na Guarda, na Covilhã, em Castelo Branco ou mesmo na Câmara Municipal de Lisboa.
Mas se ela influenciava a estrutura eclesiástica, não é menos verdade que os dirigentes da Igreja (Bispos, Cónegos, Padres) – que lhe prestavam os seus respeitos de forma sistemática – também a influenciavam por sistema.
Tudo isso, claro, por via dos apoios fortes que a Quinta dava a todos eles também.
Dr. Guerra – Director do jornal «Gazeta do Sabugal»
Lembro a todos que um grande homem do Casteleiro, em 1926, fundou o jornal «Gazeta do Sabugal» e que durante anos liderou um grande movimento de protesto e reivindicação dos agricultores e lavradores da altura no Concelho.
Foi o Dr. Guerra, da Quinta das Mimosas, que foi também o líder do «Motim do Aguilhão», em Fevereiro de 1926, há 90 anos. O jornal durou pouco tempo, mas ficou na História local.
Quanto ao Dr. Guerra, talvez a fase mais conhecida da sua intervenção cívica seja a revolta dos agricultores dessa época contra impostos que consideravam injustos – revolta essa liderada por ele, um abastado lavrador.
Um episódio ficou registado como «Motim do Aguilhão», assim chamado por razões óbvias… a vara dos carros de bois e vacas tem um aguilhão… certo?
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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