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22 Maio 2019

Olival no Baixo Alentejo – um crime triplo

Por José Jorge Cameira
José Jorge Cameira
Vale da Senhora da Póvoa, Vale de Lobo e Moita baixo alentejo, josé cameira, olival intensivo Deixar Comentário

Felizmente, e nunca é tarde, estalou a polémica sobre o bom e o mau do olival intensivo no Baixo Alentejo.

Olival intensivo no Baixo Alentejo - um crime continuado
Olival intensivo no Baixo Alentejo – um crime continuado

Voltando um pouco atrás no tempo e um pouco de História.

Com o fim da Reforma Agrária os campos foram votados ao abandono, em total improdutividade, exceptuando nos terrenos de pequena e média dimensão que foram subsidiados pela então CEE para reflorestação principalmente com sobreiros, azinheiras e pinheiros. As grandes herdades ficaram em total pousio até que se concretizou o Alqueva e os vários transvases para as Barragens de Alvito, Odivelas e Roxo, com diversas ramificações ou bocas de rega para levas de água até aos terrenos, a maior parte deles classe A, B e C, os dois primeiros de enorme produtividade agrícola.

Foi então que grandes investidores estrangeiros, sobretudo Espanhóis, vieram ao Alentejo comprar essas herdades, tão somente as planas, a preços da uva mijona. Esses investidores, minha designação generosa pois a maior parte deles eram alheios a qualquer trabalho agrícola, obtiveram financiamentos da Banca espanhola a juros ridículos comparados com os nossos. Adquiriram grandes herdades, preferentemente as planas, como escrevi e procederem à instalação de um negócio que já existia em Espanha – o Olival intensivo para a produção de Azeite. Esta instalação de olival também pode ser considerada «Reflorestação» pelo combate à desertificação e portanto altamente subsidiada por Fundos Comunitários da UE. A instalação do Olival intensivo não poderia acontecer sem as águas do Alqueva. Ora aqui está o primeiro dano contra o País – esse mar de água deveria ser destinado para o fomento da produção de Produtos Agrícolas para alimentação humana em terrenos de boa qualidade (a e B), evitando-se a importação dos mesmos. Mas tal não aconteceu na escala desejada por superiores «decisões políticas» na área do Poder.

Arranque de azinheiras
Arranque de azinheiras

O negócio do olival intensivo produz imenso lucro a quem o faz. Além da designação «intensivo» apareceu o super-intensivo e mais recentemente o mega-intensivo. Dirão alguns… o Empresário investiu, arriscou, é lícito que obtenha o seu lucro. Certo, mas tal não pode acontecer em «modo selvagem», violando todas as normas legais em vigor no País e os próprios contratos assinados com o Ministério da Agricultura.

O que se pode condenar neste investimento? Quase tudo, opino eu.

Primeiro, o Emprego gerado é perto do nulo. Bastam até três trabalhadores para uma herdade enorme, por exemplo acima de 500 hectares.

Na pré-instalação e preparação e instalação dum olival os proprietários de forma sistemática cortam oliveiras tradicionais, azinheiras e até sobreiras que estejam numa mancha plana ideal para o trabalho, portanto uma limpeza. É comum saber-se que essas árvores são arrancadas em quase todas as instalações novas. É um negócio paralelo: as oliveiras mais antigas são levadas para Espanha e, dizem, exportadas para Itália. Crime, portanto. E sem castigo, não aconteceu um sequer.

Se um trabalhador com um tractor avisa o proprietário que descobriu vestígios arqueológicos, o mesmo recebe ordens para charruar em frente e calar-se. E tem de o fazer, senão é despedido. São já muitos os casos. Sem castigo, um sequer. Outro crime.

Agora sigamos a produção da azeitona.

A oliveira, aquela árvore pequenina que raramente atinge os três metros de altura, assim é para evitar a contratação de mão de obra para apanha da azeitona e facilitar a entrada de máquina de baixo porte para a deitar o fruto abaixo.

Mas essa arvorezinha, cada uma das muitas milhares que há nos olivais intensivos neste Alentejo, recebe diariamente gotas de água (do Alqueva, como escrevi antes) nas quais está diluída um químico ou «vitamina» que é factor de engrossamento da azeitona. Ora aqui temos azeitona aos milhões de quilos que vai assim para o Lagar. Com veneno, acrescento eu.

Mas há que forçar a azeitona, cada uma, a cair da árvore. Contratar mão de obra para fazer isso, ficaria caro, pagando salários justos. Então foi inventada uma máquina que passa nos carreiros no meio das filas de oliveiras e joga para cima delas uma nuvem de um produto (químico, obviamente) que apodrece o pedúnculo de cada azeitona e ela cai ao mais leve estremecer da árvore. Aqui temos outra dose de químico com o qual cada azeitona fica impregnada. E assim vai para o Lagar, com outra dose de químico a juntar à outra recebida pelas raízes.

Por mais diabólico que pareça essa nuvem lançada contra as pequenas oliveiras envenena milhares, senão milhões de pássaros que pousam para descansar ou em migração. Um crime verdadeiramente ambiental!

Para finalizar duas consequências deste terrível negócio do Olival intensivo.

O Azeite, o produto final, entra nas nossas casas, na nossa mesa, no nosso prato, é produzido com aquele tipo de azeitona que sofreu aqueles condimentos. É azeite puro, de qualidade, de confiança? Vamos dá-lo às nossas Crianças? Originará doenças no nosso organismo que não sabemos quais – cancerígeneas? – a origem e o motivo? Cada um que pense, opine e decida.

Sobre os milhares, muitos mesmo, de hectares onde foram implantados esses olivais… que dizer sobre o humus, a vida orgânica dessas terras, que durante muitos anos levaram doses repetidas de químicos? Quando a onda passar, para que servirão essas terras envenenadas? Quantos séculos levarão a regenerar-se?

A quem interessa esta situação? À cabeça, aos Empresários Investidores. A seguir toda a pleíade de técnicos ligados a esta Olivicultura (não é Agricultura!) que usufruem bons e gordos salários por isso interessa-lhes a manutenção do status quo não importa o preço social a pagar.

Que faz o Poder Político? Nada. Incentiva o aumento do Olival intensivo porque origina números elevados da produção de azeite nas estatísticas da UE, justificando-se assim mais subsídios comunitários.

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José Jorge Cameira
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