Viajar hoje é quase obrigatório. Toda a gente gosta de mostrar aos amigos uma foto tirada algures longe da morada. Organizam-se excursões para visitas cá e lá fora, com viajantes que, por vezes, mal têm para comer. Mas, como é moda, toda a gente viaja.
>> ETAPA 18 >> ALGARVE.
1976 a 1979
1976 – Férias na praia da Senhora da Rocha junto a Porches
Passei 15 dias de férias na praia da Senhora da Rocha, na quinta do Sr. Calado, contígua à praia. Comecei em Agosto de 1976, já que só conheci a colega Clarisse de Inglês em Outubro de 1975, data em que fui colocado no Liceu Camões. Era ela que organizava essas estadas na Quinta do Sr. Calado, E foi no Verão de 1976, porque tenho uma carta do Dr. Gaspar, da Guarda, mas a trabalhar no Fomento Mineiro no Porto, que conheci no Algarve nesse ano. Ao mesmo tempo havia três grupos a passar férias: um no primeiro andar onde havia passado férias Eça de Queirós, outro na garagem transformada em apartamento e outro ao lado. A casa tinha uma cisterna e dava acesso à praia da Senhora da Rocha, atravessando um aldeamento inglês instalado em parte do que fora a quinta, descendo depois uma longa escada pela rocha, feita pelo sr. Calado.
No cimo da rocha havia uma capelinha dedicada à Senhora da Rocha, a quem era feita festa com procissão em 15 de Agosto, se não me engano. Dentro da capelinha havia alguns ex-votos de marinheiros que se haviam salvo de fortes tempestades por graça da Virgem. Era o Sr. Calado que organizava a festa. Devia ter sido a sua família que outrora começara com esta festa. Acudia a ela gente de Porches e redondezas. Mais tarde, as duas praias, cortadas pelo rochedo saliente onde se situava a capelinha, foram unidas por um estreito túnel só para pessoas. Era uma praia tranquila. Tinha um senão: havia muitas rochas que ficavam à mostra com a vazante e havia muitos ouriços que picavam quem entrasse descalço na água. A arriba, alta, fazia uma gruta que dava sombra no auge do calor.
Era um problema ir ao pão a Armação de Pera, ali a uns três ou quatro quilómetros, que as bichas na padaria eram enormes.
Havia um restaurante já perto de Porches mas, além de caro, era servido por molengões que levavam horas a servir-nos.
Por vezes dávamos uma volta pelas redondezas à casa museu de Almancil, à Feira de Lagoa, a Silves e outros lugares. Enfim, os 15 dias passavam depressa no descanso.
:: :: 1977 :: ::
Chefe de Repartição no FAOJ
No dia 4 de Fevereiro de 1977 fui requisitado ao Liceu Camões pelo FAOJ – Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, onde ingressei como Chefe de Repartição a pedido do director, meu conhecido do atletismo no CDUL.
Visitei as delegações do FAOJ na Terceira, Faial, com ida à praia, e São Miguel, onde assisti à festa do Senhor Santo Cristo, tendo dormido na casa da Mocidade, por falta de camas na cidade. Fiz escala em Santa Maria, tendo dado tempo para dar uma volta pela Vila do Porto.
Também visitei a delegação de Beja e Barrancos, tendo passado pela barragem de Monte da Rocha, perto de Ourique, onde o FAOJ tinha uma pousada da juventude.
O FAOJ tinha muitos objectos num armazém sem uso. Tratei de entregar alguns a organismos que os usassem. Foi o caso de uma mufla que cedi ao Liceu Camões para servir nas aulas de Trabalhos Manuais. Era evidente a luta entre comunistas e socialistas e até do PPD por dominarem os serviços públicos, sobretudo os lugares de chefia. Eu, não sendo militante de nenhum partido, não tinha apoios para além do director. Por isso, tinha os dias contados.
:: :: VERÃO DE 77 :: ::
Passei parte das férias de 1977 à procura de casa em Lisboa, visitando muitas. Já tinha a vida estabilizada e queria mudar-me para Lisboa, onde trabalhava de dia e à noite. Encontrei aquela onde moro, junto do Estádio do Benfica, e negociei-a com os proprietários-construtores.
Eis senão quando, já nos fins de Agosto, princípios de Setembro do ano de 1977 recebi a notícia que o meu requerimento feito havia cerca de ano e meio a solicitar juro de 4 por cento por parte da Caixa Geral de Aposentações na compra de casa própria para funcionários públicos, de acordo com o Decreto-Lei n.º 42.951, de 27 de Abril de 1960, havia sido despachado favoravelmente. Tive de adiar a escritura já marcada com os proprietários para poder tratar dos papéis e escritura com a Caixa Geral de Aposentações, tendo feito a escritura em 22 de Setembro de 1977. Não podia perder a ocasião, já que o juro de 4 por cento era muito baixo para o valor normal dos juros nessa altura e a casa seria paga em 300 prestações mensais.
Eis a razão por que não viajei para o estrangeiro, tendo apenas passado 15 dias no Algarve.
Fomos, mais uma vez, passar 15 dias em Agosto na Praia da Senhora da Rocha, onde conhecemos os irmãos Carvalho, um advogado e outro engenheiro mecânico, e o Eng.º Afonso, que trabalhava na fábrica de fogões Meireles no Porto, todos do Norte. Manhã cedinho ia ao pão. Passávamos o dia na praia, vindo almoçar tarde. Descansávamos e voltávamos para a praia à tardinha. Depois de jantar reuniamo-nos em cavaqueira e um dos Carvalho, o engenheiro mecânico, até tocava bandolim, divertindo-nos a cantar fados de Coimbra, acompanhado por nós.
Em Outubro seguinte inscrevi-me na Faculdade de Medicina de Lisboa, no Hospital Escolar de Santa Maria (ver cartão).
Ainda renovei a matrícula em 1978/79, mas acabei por desistir, por falta de tempo para assistir às aulas. Era obrigatório frequentar as aulas. Como era professor, praticava atletismo e tinha-me inscrito num curso de Programadores de Cobol na IBM, o tempo não dava para mais. Fiz contas à vida e conclui que teria de passar seis anos na Faculdade. Para ganhar mais dinheiro que professor, teria de esperar uns anos de prática. Concluí que deveria seguir a carreira de Revisor Oficial de Contas em acumulação com professor do curso nocturno.
Foi com este pensamento que rejeitei entrar na Inspecção-Geral de Finanças após ter prestado provas e ter sido aprovado.
Entretanto, um colega de Matemática na Patrício Prazeres, natural de Vale de Lobos, Penamacor, funcionário da Câmara Municipal de Lisboa na secção de computadores, conseguiu inscrever-me como se fosse funcionário da Câmara num curso de Programador de Cobol da IBM. Éramos uns 300 candidatos, muitos dos quais do Banco de Portugal. Logo no primeiro módulo foram eliminados quase todos. Ficámos apenas 14. Fui avançando de módulo em módulo.
Em Novembro de 1977 viajei até Coimbra com a mulher, sogra e marido. Ficámos numa pensão na estrada da Beira. No dia seguinte, muito cedo, levantei-me para apanhar o comboio para Lisboa, para uma aula da IBM. Perdi o comboio porque era necessário mudar em Coimbra A e não o fiz. Reclamei por não ter sido avisado. Trocaram-me o bilhete e voltei à tarde a apanhar outro. Ainda regressei à pensão para dormir mais um pouco.
Em 19 de Dezembro de 1977 deixei o FAOJ e regressei ao Liceu Camões. Fiquei com uma turma de dia, deixada por uma colega.
Creio que foi no Natal deste ano que fomos dormir à Pousada de São Lourenço na Serra da Estrela antes de seguir para Quadrazais. Tinha uma grande lareira e foi agradável jantar aí e passar a noite confortavelmente. Na manhã seguinte, antes de partir, tivemos ocasião de admirar a paisagem da serra e ver as nascentes do Mondego e do Zêzere.
:: :: 1978 :: ::
A minha sogra havia casado, em segundas núpcias, com o Sr. Sengo, sargento reformado da Brigada de Trânsito. Ele, de mãos jeitosas, fabricara uma roulote e, nos feriados de Junho, levou-nos a acampar no Parque de Campismo de Lagos.
Tive ocasião de conhecer as praias da região, como sejam a de Dona Ana, da Luz e a Meia-Praia.
Fomos umas duas vezes ao berbigão a Alvor. Visitámos a praia de Alvor e na maré vaza descobrimos um filão de berbigão. Foi encher sacos à vontade e comer até fartar, cozinhados das mais diversas maneiras.
Férias de Verão na Senhora da Rocha
Como estava a pagar a casa comprada no Verão de 1977, não havia reservas para gastar em grandes viagens. Por isso, mais uma vez fomos passar 15 dias na mesma praia da Senhora da Rocha, com programa semelhante ao de anos anteriores, sem mudanças.
A visita neste Verão foi a Ayamonte, tendo saído de Vila Real de Santo António em 21 de Agosto de 1978 e regressado nessa mesma data. (ver foto da alfândega).
Em Outubro de 1978 passei para o Curso Nocturno no Liceu Camões. Nunca mais regressei ao Curso Diurno. Assim, ficava com o dia livre para poder fazer o estágio para Revisor Oficial de Contas numa sociedade de ROC’s mesmo em frente do Liceu.
A escola estava pacificada, com alguma agitação aquando de eleições para a direcção, com sessões de esclarecimento pelos sindicalistas.
Apenas um ou outro professor ainda ia atrás da conversa dos alunos quanto às notas a dar. Lembro-me de uma vez, presidia eu à reunião, de uma professora de Francês, indiana, ter dado uma nota de 12 a uma aluna. Lá fora essa aluna fez sinal à professora e esta foi ao encontro da aluna. Esta achou a nota baixa e a professora entrou e pediu que corrigissem a nota para 14. Fiquei com asco a este tipo de professores que não tinham vontade firme para assumir o que achavam correcto.
:: :: 1979 :: ::
Na Páscoa deste ano meti-me noutra aventura. No Domingo de Páscoa fui visitar meu irmão à Costa de Caparica, onde ele passava férias com os sogros. Conversámos sobre a possibilidade de adquirirmos casa na Costa de Caparica. Eu atirei-lhe com esta:
– Se encontrássemos uma casa com rés-do-chão e 1.º andar aí até 1.200 contos, eu alinhava nisso!
Íamos a caminho da capelinha para a missa, ali ao lado, quando olho para uma casa de rés-do-chão e 1.º andar à venda. Digo de imediato a meu irmão:
– Aqui está o que pretendemos.
Ele a viver ali ao lado e nunca tinha visto o letreiro.
– Querias por 1.200 contos?! – atira-me ele.
Telefonámos para o vendedor e… não é que pediu exactamente 1.200 contos!
Acabámos por comprar essa casa, tendo feito a escritura em 10 de Abril de 1979. Mais um encargo a impedir viagens!
Porque havia a casa de Lisboa para pagar e agora também a da Costa, fomos novamente passar 15 dias na praia da Senhora da Rocha, tanto mais que a da Costa só viria a ficar desocupada um ano depois.
O programa foi semelhante ao dos anos anteriores, com os mesmos amigos.
Eram tempos de vacas magras, mas os tempos de vacas gordas com grandes viagens estavam próximos.
Acabávamos por ir uns dias a Quadrazais e ir visitar nuestros hermanos y sus tiendas em Fuentes de Oñoro.
(Fim da Etapa 18.)
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«Viagens dum Globetrotter», por Franklim Costa Braga
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