Um advogado, convencido de que um seu cliente estava inocente da vil acusação de ter furtado um relógio, defendeu-o eloquentemente na barra do tribunal.
Repeliu com tal veemência os argumentos da infamante acusação, que os juízes se convenceram também na inocência do réu, absolvendo-o. O próprio promotor público se rendeu aos argumentos, prometendo não recorrer da justíssima sentença do tribunal.
No mesmo dia do julgamento, o defensor recebeu o seu cliente no escritório. Disse-lhe este:
– Senhor doutor, vossa senhoria prestou-me um serviço importantíssimo, pelo que lhe venho agradecer e, ao mesmo tempo, pedir-lhe um conselho.
– Um conselho? Diga lá em que mais o posso servir.
– Sabe que fui acusado de ter furtado um relógio.
– Certo. Mas o que quer dizer com isso?
– O senhor doutor provou aos juízes que não era verdade e eles absolveram-me, pelo que eles agora já não têm nada a ver com o assunto, não é verdade?
– Sem dúvida. O caso ficou encerrado. Nem o delegado do ministério público vai recorrer.
– Então não tem mal em eu me usar dele?
– Usar o quê? – perguntou o advogado.
– O relógio – respondeu o cliente com naturalidade.
– O relógio!? Pois o senhor tem o relógio?
– Claro que o tenho. Onde estaria aliás o mérito da sua defesa se assim não fosse?
Ao bom advogado restou-lhe pôr o insolente larápio fora do seu escritório.
:: ::
«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
Leave a Reply