Talvez muitos não saibam, mas a quantidade de água no planeta é a mesma. Mas, tal como a riqueza, está mal distribuída. A grande maioria está no mar e, para ser potável, tem de ser dessalinizada. Em Portugal a ilha de Porto Santo usa esta metodologia para resolver as suas necessidades de água, salientando-se que ainda é uma tecnologia muito cara. Não querendo ser um «profeta da desgraça» temo que neste ano, ou talvez no próximo, a água para o regadio, que normalmente temos nas nossas courelas ou quintas, pode não ser suficiente. Aliás quem anda nestas vidas de agricultor bem tem notado que progressivamente as nossas fontes vão secando mais rapidamente. Mesmo tendo escrito este artigo em Fevereiro, achei que ainda era oportuno. A chuva felizmente tem aparecido mas também a temperatura anda a galopar, tendo-me levado a escrever esta cronica para nos ajudar a talvez nos leve a refletir.
O facto é que na região da Cova de Beira a água sempre abundou. Quem não se lembra do verde agressivo que nos encantava na primavera quando surgiam os primeiros raios de sol que nos começavam a aquecer.
Com o passar do tempo, notamos, no entanto, que o nosso clima está diferente. Neva muito menos que outrora e a primavera parece chegar mais cedo. Mesmo ontem, em pleno fevereiro, já vi as mimosas a florescer. E a chuva, mesmo aparecendo, tarda em querer ficar por alguns tempos.
Ao contrário do litoral, que em último recurso até pode aproveitar a água do mar, quem vive no Interior tem de se socorrer das barragens e, no caso português, até há um bom exemplo que é a Barragem do Alqueva, o maior lago artificial da Europa.
Não deixa de ser curioso que um recurso que abundava quando era criança parece agora em não querer permanecer. Seguramente todos nos lembramos dos anos 2005/2006 e mais recentemente 2017/2018.
Obviamente quem sempre se habitou há abundância leva tempo a entender e a adaptar-se a gerir um bem que pode começar a ser escasso. E a receita até foi-nos ensinada pelos nossos avós: poupar!
A Beira é rica em tradições e sempre soube sobreviver com o seu esforço e a poupança dos seus recursos. A tradicional casa beirã aproveitava tudo. Nada, mas nada, se deitava fora. Porque muito desperdício ia para os animais, que por seu lado nos alimentavam e, como um ciclo, conseguíamos sustentabilidade, mesmo com famílias tendo 10 e mais filhos.
Com a água deveremos começar a adotar estas práticas. Temos de ir ganhando consciência que os recursos têm de ser «vistos» de outra forma.
As regas, que é a utilização mais consumidora, que usamos nas nossas courelas e quintas, deve ser efetuada com o mínimo de desperdício. Regar em pleno verão de dia, com temperaturas de quase 40ºC, é uma prática errada. O calor libertado no solo contribui para que uma parte significativa da evaporação dessa água não chegue a infiltrar-se no terreno.
Muitos outros exemplos poderíamos dar. Ter em atenção à conservação das levadas e canais para que a água chegue ao destino certo sem perdas pelo caminho. E provavelmente deveríamos pensar numa agricultura onde o recurso água pudesse ser poupado.
Tal como os nossos antepassados souberam adaptar-se à realidade dos seus tempos, com muito menos meios e menos conhecimento, estou certo que cada um de nós acabará por entender, por si, o melhor para a sua terra.
Se estivermos sentados à espera de «ajudas» seguramente iremos entender que será um erro que nunca deveríamos ter cometido.
Covilhã, Fevereiro de 2019
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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