Viajar hoje é quase obrigatório. Toda a gente gosta de mostrar aos amigos uma foto tirada algures longe da morada. Organizam-se excursões para visitas cá e lá fora, com viajantes que, por vezes, mal têm para comer. Mas, como é moda, toda a gente viaja.
>> ETAPA 8 >> EUROPA.
1967
Espanha, França, Itália, Jugoslávia, Grécia, Turquia, Bulgária, Roménia, Hungria, Áustria, Alemanha, França, Espanha, Portugal
>> 5.ª viagem – De 9.7.1967 a 21.9.1967 (2.ª parte) <<
25.8.1967 – No dia seguinte visitei a Mesquita Azul, onde assisti às cerimónias religiosas, tendo tirado os sapatos, que ficaram à entrada à guarda de um porteiro. Anos mais tarde voltei lá e já não deixavam os turistas assistir às cerimónias, embora pudessem visitar a mesquita. Visitei ainda a igreja de Santa Sofia, ou Hagia Sofia, construída no séc. VI durante o Império Bizantino, o palácio Topkapi, com suas maravilhas em ouro e louças (ver foto e postal) e o Grande Bazar, onde ia ficando preso, porque fechava a uma certa hora da tarde, talvez 7 ou 8 horas, e eu deixei-me andar pelas ruelas.
Quando quis sair tive de saltar o portão bastante alto. Havia táxis colectivos de nove lugares nas ruas, entrando uns passageiros e saindo outros como se fossem trajectos de autocarros. Tenho algumas lembranças da Turquia, mas não sei se foi desta vez que as comprei, já que estive três vezes nesse país. Creio que foi aí que comprei um álbum que tem por capa uma folha de cobre trabalhada com figuras humanas a fumar.
26.8.67 – Apanhei um ferry para ir a Çanakkale, na parte asiática, e visitar as ruínas de Tróia. Segui depois para Balikesir, de que tenho um papel de câmbio (ver foto), e regressei a Istambul por Bursa. Uma lira turca valia nessa altura três escudos.
27.8.67 – Tive dificuldade em apanhar boleia para sair de Istambul. Um turco imigrante na Alemanha levou-me alguns quilómetros e deixou-me na estrada. Tive de dormir num campo e aceitei a oferta de pão dum rapazito pastor, pois estive ali muitas horas, coisa que só me haveria de acontecer na Noruega no ano seguinte, mas aí por motivos peculiares, como explicarei mais tarde. Não havia onde comprar algo para comer. Desta vez não me tinha prevenido de alimentos. Enfim, mais uma vez encontrei uma pessoa boa.
28.8.67 – Tenho no passaporte um carimbo de saída por um lugar de leitura indecifrável. No dia seguinte consegui sair para Edirne, onde dormi num canto dum jardinzito. De noite ouvi um ratete rondar o meu saco junto à cabeça. Enxotei-o com um pequeno grito e lá se foi.
29.8.67 – De manhã saí da Turquia europeia e continuei o meu caminho para a Bulgária, apesar de não ter visto deste país. Segui em direcção a Plovdiv e depois Sófia, de que visitei alguns monumentos, como: monumento ao exército russo, igreja russa de Sófia, igreja Alexandre Nevski, Mausoléu de Dimitrov e Praça Narodno Sabranié (ver fotos).
30.8.67 – O Sr. Paul Tapponier, de Annecy (França), levou-me da fronteira Búlgara até Skopjé, na Macedónia, em condições difíceis, já que tinha o carro cheio com a mulher e um filho e teve de pôr coisas suas e o meu saco no tejadilho. Mais uma pessoa boa no meu caminho.
31.8.67 – Subi pela Sérbia em direcção a Belgrado, tendo dormido algures. Estive em Belgrado, que visitei (ver fotos).
1.9.67 – Continuei à boleia para Novi Sad em direcção a Subotica.
Em 2 de Setembro entrei na Hungria por Szeged, seguindo depois para Kecskemét.
Em 3 de Setembro cheguei a Budapest num camião. Em Budapest, numa das suas belas pontes sobre o Danúbio encontrei um universitário, a quem perguntei onde era o albergue da juventude. Ou que ele não soubesse onde era, ou que tenhamos ido lá e não houvesse lugar, ele conseguiu arranjar-me um quarto numa casa particular de uma velhota. Paguei 10 dólares.
4.9.67 – Visitei a cidade, lembrando-me da zona do Parlamento e um parque em frente, do outro lado do Danúbio, onde, desenhado no chão, havia um tabuleiro de xadrez com peças de madeira de cerca de meio metro cada uma. Lembro-me ainda do Monumento aos Russos em frente ao Danúbio e daí tiraram-me uma foto sentado num muro, donde se avista a cidade (ver foto). Os russos deixaram grandes monumentos ao seu exército nos países onde venceram os nazis e dominaram militarmente durante anos, sob o Pacto de Varsóvia. Um desses monumentos com maior dimensão ainda se pode ver em Kiev.
Segui caminho para a Áustria, onde entrei por Nickolscort. Já era quase noite e resolvi jantar e dormir numa pequena pensão. Aí obtive um copo, não sei se oferecido, se comprado. Lembro-me de o ter pedido à dona da pensão. Era mais um para a minha colecção de copos de marcas de cervejas, como a Kronembourg, Stella Artois, La Meuse, Pilsen, Heineken, Dreher 1865, Petzina, Reininghaus e outras.
Em 5 de Setembro cruzei a Áustria e entrei na Alemanha, tendo dormido no albergue de Ulm, rodeado de um bonito jardim (ver carimbos).
Em 6 de Setembro dormi no albergue de Strasbourg, cidade minha bem conhecida.
Em 7 de Setembro continuei à boleia para Paris, passando por Bourg, Dijon e Nancy.
Em 8 de Setembro dormi no albergue de Paris. Creio que foi desta vez que me encontrei com o Zé Manel Sono, meu colega de escola e amigo, com quem fui à noite à festa do jornal comunista L’Humanité.
Em 9 de Setembro rumei a Brest. Dormi algures no caminho.
10, 11 e 12.9.67 – Dormi em Brest.
13.9.67 – Desci por Quimper para Rennes, em cujo albergue dormi.
Em 14 de Setembro segui para Nantes em direcção a Parthenay, onde fui visitar a Annie, que conhecera na Universidade de Valencia e que me chamava «mon beau Vasco da Gama» devido ao meu carácter aventureiro e viajante. Estive em casa dela. No quarto dela trocámos as maiores carícias. Conversei com a mãe, que gostou de saber coisas sobre Portugal, como se era verdade que havia moças com o nome de Conceição, coisa estranha para ela. A Annie indicou-me uma pensão, onde dormi nesse dia. Continuei aí no dia 15 de Setembro.
Em 16 de Setembro, sábado, ela e os pais foram passar o fim-de-semana numa casa de campo que tinham em Chandeniers, a alguns quilómetros de Parthenay. Fui de boleia para lá e dormi numa pensão. Regressei de boleia no domingo, 17 de Setembro, à tarde, a Parthenay.
Em 18 de Setembro creio que a Annie foi comigo para Poitiers, em cuja universidade estudava e que visitei com ela. Apresentou-me ao Professor Virgílio, o leitor de Português nessa universidade. Fiquei em Poitiers e dormi no albergue.
Em 19 de Setembro rumei a Bayonne, Hendaye, Irun e San Sebastian. Aqui devo ter dormido no Albergue da Juventude, embora não tenha carimbo. Lembro-me que aí estava um americano que fumava hachiche por cachimbo e oferecia uma chupadela aos que o rodeava. Ofereceu-me e, com certa relutância, chupei, mas não engoli o fumo. Experiência sem interesse, já que eu não fumava e nada senti de especial.
Em 20 de Setembro segui rumo a Portugal. Devo ter dormido algures.
Em 21 de Setembro entrava em Vilar Formoso e seguia para a minha aldeia, terminando aqui uma viagem de milhares de quilómetros à boleia.
Haveria de ir visitar novamente a Annie noutra viagem de 25 de Outubro a 3 de Novembro. Na quarta-feira, 1 de Novembro, era feriado. Nessa altura, creio que ainda era feriado o dia 2, dia de fiéis defuntos. Fiz as pontes de Sexta, Sábado e Domingo de 27, 28 e 29 de Outubro e a de 3, 4 e 5 de Novembro, e assim consegui umas férias intercalares. A Universidade começava tarde as suas aulas.
Em 25.10.67 saí por Vilar Formoso e entrei em Fuentes. Segui o caminho habitual e dormi, certamente, pelo caminho. Em 26 de Outubro continuei por Espanha.
Em 27 de Outubro devo ter ficado no albergue de San Sebastian, embora não tenha carimbo.
Em 28 de Outubro entrei em França. Segui para Poitiers e depois para Parthenay.
29.10.67 – Estive em Parthenay com a Annie, recebendo as habituais carícias da parte dela.
30.10.67 – Continuei em Parthenay.
31.10.67 – Saí para Poitiers, onde dormi no albergue. Tantos quilómetros percorridos para estar três dias com a Annie! Amor, a quanto obrigas!
1.11.67 – Segui para Bordeaux, onde dormi no albergue.
2.11.67 – Continuei viagem rumo a Portugal, tendo dormido, talvez, em San Sebastian.
3.11.67 – De San Sebastian para Portugal devo ter apanhado uma grande boleia, já que saí de Fuentes e entrei por Vilar Formoso nesta data. Não me admiro, pois já conhecia pelas matrículas dos carros franceses e espanhóis de onde eram e pedia boleia àqueles que eram de longe. Sobretudo os camiões faziam grandes percursos e, como os condutores iam sozinhos, até agradeciam companhia. Acresce ainda que, desta vez, usava a capa e batina de meu irmão, o que me identificava como estudante.
Tenho os carimbos no passaporte de entrada e saída em Espanha e Portugal, mas nenhum de entrada ou saída de França. Tenho, porém, os carimbos dos albergues de Poitiers e Bordeaux (ver).
(Fim da Etapa 8.)
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«Viagens dum Globetrotter», por Franklim Costa Braga
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