Hoje, trago-lhe a memória dos «Italianos» e a lembrança de dois «impostos» da Igreja sobre os seus fiéis: a «congra» e «avença». Por outro lado, a memória de um edifício do Casteleiro muito famoso na altura…
Toda a gente com mais de 40 anos se lembrará muito bem dos Italianos, aquele edifício emblemático que devia ter sido um gigantesco forno de separação de minérios e acabou por ser apenas um grande centro de divertimento…
O edifício dos Italianos
O edifício dos Italianos era uma grande construção, bem sólida, mas já não era de pedra como era tradição no Casteleiro. Por exemplo: a igreja, construída também nos anos 40, é toda de pedra. «Os Italianos» tinham sido construídos com tijolo burro (julgo que era isso) e o bloco fora todo rebocado com uma massa de cimento lisinha, pintada de quase branco e era enorme. Ou parecia enorme aos nossos olhos de miúdos. O edifício foi demolido lá pelos anos 80, julgo, para dar lugar a habitações e comércio. Da estrada ao edifício, um grande largo de uns 30 metros de profundidade e que corria ao longo de todo o edifício. Antes da entrada, um telheiro alto, gigantesco. A porta de entrada era larguíssima. Mas tinha três degraus – o que significa que não era para entrada de viaturas. Lá dentro, logo à entrada, um hall enorme com dois grandes blocos rectangulares altos e com o tijolo à vista. Tinham sido construídos para serem os fornos. Depois, para a direita de quem entrava o grande salão. E, ao longo dessa sala grande, várias dependências, tudo em grande e com pé direito impressionantemente alto. Isso era uma imagem de marca da construção: o telhado ficava lá muito em cima… bem diferente das nossas casas: tipo dois ou três andares lá em cima. Era assim que eu via o edifício. Se calhar era só o meu olhar de criança a ampliar a coisa… Os bailes Do que mais nos lembramos é dos bailes. Enormes bailes de domingo. Toda a gente rodopiava naquele grande salão. De mim e dos meus amigos, só me lembro de andarmos a jogar à apanhada ou coisa assim por entre as pernas dos dançantes…
O cinema
O cinema que se via nesse tempo na aldeia ou era projectado numa parede da casa senhorial do Largo de São Francisco ou nos Italianos. Era cinema mudo ou lá perto, a preto e branco, naturalmente, e com histórias de amor em profundidade e muitas lágrimas.
O Delfim
Outro frequente utilizador era o comediante Delfim e a sua «troupe»: Delfim Pedro Paixão – bem me lembro do nome dele e da sua companheira e restante equipa de «actores» de rua. Muito nos ríamos com as suas brincadeiras ingénuas. Quando a mulher era viva, havia trapézio e tudo (acho que morreu de uma queda).

A «congra»
Agora, referência para a «congra», que de facto se deve dizer «congrua». Era um contributo dos paroquianos para garantir o modo de vida dos padres, que não podiam na altura trabalhar que não fosse dentro da igreja.
Para lá da «congra», é bom que se diga que o pároco do Casteleiro tinha direito a casa, mesmo antes de ser construída a casa paroquial hoje ao abandono. A «côngrua» é pois a «pensão que os párocos recebiam para o seu sustento»; era uma «tradição cristã paroquial e dever moral e religioso do crente contribuir financeiramente para a honesta e digna sustentação do seu pároco»; ou era «o que os habitantes de uma freguesia pagam ao pároco para sua sustentação».
Isso, porque «em Portugal, quem sustenta a Igreja é a generosidade dos fiéis».
Pois bem, para o Povo, nesse tempo, a «congra» era de facto uma contribuição de cada família para garantir a sustentabilidade do pároco e isso era assim entendido, mas não era voluntária nem resultado de generosidade. Era estipulado um montante e cada família pagava e pronto. Pior: há casos (não, que eu saiba, no Casteleiro) em que o padre recusava um serviço religioso se a côngrua estivesse em dívida.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
Força: vamos continuar a estudar – os dois e mais alguém que queira juntar-se a nós, OK?
Abraço, meu caro.
Parabéns pelas crónicas!
Só agora vi e, daí, a vinda tardia ao assunto.
A antiga côngrua encontra-se substituída pelo atual Contributo Paroquial, que, quanto sei, não é imposto a ninguém.
Poderei acrescentar, a esse propósito, que existe uma Paróquia com cerca de 120.000 habitantes, em que apenas menos de duas centenas de pessoas/agregados familiares contribuem para a “sustentação do clero” através do Contributo Paroquial.
Também será de referir que o Estado Português, embora não confessional, considera o Contributo Paroquial, sob a designação de Donativo, à Igreja, em sede de benefícios fiscais (artº 63º do Estatuto de Benefícios Fiscais), pelo que um donativo, anual, de, por exemplo, € 100,00 (cem euros) confere uma dedução, à coleta (ou imposto) do Contribuinte, de € 32,50.
Significa, portanto, que, dando €100,o00 à Igreja, acabo por desembolsar apenas € 67,50.
Isidro Candeias
Em Sortelha ainda se paga a côngrua.
Tenho algumas histórias de espanhóis por estas paragens!
Desconhecia dos italianos e não encontrei rasto do tal Rodrigo das Águas Rádium.
Um abraço.
António Gonçalves
Em Sortelha continua a pagar-se a côngrua!
Quanto aos estrangeiros na região de Sortelha: Também tenho histórias para contar um dia!
Curiosamente não encontrei rasto do Dom Rodrigo, das Águas Radium!
Um abraço.