No Brasil, onde houve debate ideológico, um indivíduo de extrema-direita, que não augura nada de bom, acaba de tomar posse como Presidente da República, com muitos e muitos votos de pessoas de esquerda. Isto aconteceu, devido aos inimagináveis índices de corrupção dos governos do Partido dos Trabalhadores que puseram em causa os ideais que proclamavam.

Obviamente que os desastres ideológicos (para não dizer totalitarismos), tanto de esquerda como de direita, não são de ontem, nem ficaram enterrados na história; são de hoje, têm diferentes rostos e situam-se em diferentes latitudes. Por isso, não é descabido questionar o que valem e para que servem as ideologias.
Para muitos políticos atuais, nomeadamente o Presidente francês, Macron, que se fez eleger contra a lógica dos partidos tradicionais, as distinções entre esquerda e direita esbateram-se. O importante é o pragmatismo nas decisões – um pouco no sentido: se não se pode fazer o que se deve, faz-se o que se pode – fazendo crer que os debates ideológicos não resolvem nada e, nalguns casos, até, dificultam a ação política que, em tempos tão imprevisíveis e complexos, precisa de novas dinâmicas.
Não concordo, completamente; nem, sequer, penso que seja verdade que morreram os ideais políticos, sendo certo que não ocupam o espaço que ocupavam, anos atrás, na discussão pública. A existência de visões e de entendimentos distintos, de como organizar as sociedades, ajuda a entender melhor as questões fundamentais e isso é bom e útil. Sem diferenças, no debate, comprometem-se as propostas alternativas válidas e também o progresso social.
Refiro-me a ideologias democráticas que se abrem a outras maneiras de pensar, sem extremismos, sem exclusões, sem maniqueísmos (de um lado os bons, do outro os maus); ideologias com capacidade de se repensarem, que aceitem a discussão, a análise e a crítica. Ou seja, ideologias que não se transformem em crenças, em cartilhas de propaganda que, não raro, acabam em ditaduras.
Portanto, ideologias, sim; mas há valores intocáveis, os mesmos de sempre; os valores que dignificam os indivíduos e as sociedades: liberdade, respeito pelo outro, justiça, não-discriminação, solidariedade e cooperação.
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«Rostos e Contextos», crónica de Maria Rosa Afonso
Maria Rosa Afonso :
Vou responder muito sucintamente à sua pergunta : Ética, Humanismo e Cultura.
António Emídio
Minha Senhora :
Tenho a dizer-lhe que a ideologia destes novos políticos que estão a chegar à cena política internacional, é uma garrafa vazia que se pode encher de qualquer conteúdo. São chamados os políticos pragmáticos, vale tudo…
António Emídio
Tem razão. Acho que me referi a isso, mas sem a ênfase no «vale tudo», que partilho: não vale tudo. Mas o que é que se faz, para a política voltar a ganhar espaço à economia, os valores ao pragmatismo…?