A Estrela já foi Serra de muitas e frondosas árvores. Porém, as suas encostas são, agora, atapetadas de ervas. Nas ladeiras fincam-se gestas que medram espontâneas entre arbustos rasteiros e há colinas onde prosperam jovens árvores, animadas pela justa aspiração de se tornarem adultas. Assim os incêndios ou outras perversidades humanas o consintam.

O sol nem sempre se demite ainda que seja inverno. Basta, que a chuva estanque ou as nuvens resignem para que a resplandecência aproveite as manhãs ou gaste curtas tardes a fazer reluzir os verdes.
Nestes lestos dias de inverno a luminosidade não tem sido madrugadora, apenas algo intensificada por volta do meio dia. Às três da tarde já apresenta ares de renúncia. Mas, os olhares mais longínquos mantêm a sequência dos montes desenhados em esboços afilados e cimeiros.
O branquear dos povoados mostra-se mais baixo e mais próximo, quase triste, como se houvesse acalentado esperança noutros dias mais soalheiros e mais brilhantes. É como um esboroar de fantasia quando se crê que o dia poderia ter sido mais dourado. Mas, no fundo, não há verdadeira razão de queixa visto que o mês de dezembro tem sido mais uma primavera fria do que um típico mês de inverno.
Na proximidade da Serra as gestas agrupam-se em manchas verdosas e alongadas descendo em ziguezague encosta abaixo e o extenso verdolengo montês conclui-se quer pela cor das ervas e dos arbustos rejuvenescidos quer pelo verde mais terroso dos musgos colados às minorias pardas das rochas.
Pertíssimo de nós, quase a beijar-nos o rosto, um espesso bando de pardais cinzentos voam em céleres e redondas trajetórias, absolutamente certos de que o dia se sumirá rapidamente. Um deles fica-se para trás sem razão aparente, chilreando, como que pedindo aos companheiros que esperem por ele para, em conjunto, dominarem a paisagem.
E, de facto, hoje o dia tornou-se, subitamente, mais curto o que não estorvou o nosso desejo de valorizar a Serra e a sua completa envolvência.
Por fim, penetrou-nos a alma uma mística quase divina e, assim, parados de gestos, resumimos o nosso estar ao imenso prazer de uma privilegiada contemplação que fizemos durar por mais alguns momentos.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Um grande abraço amigo Nabais. Com as “devidas distâncias ” muito me honra a tua comparação .
Amigo capelo :
Ao ler este teu artigo, e outros neste mesmo estilo que tu já escreveste aqui no Capeia, o meu pensamento vai até Teixeira de Pascoaes, esse grande poeta e também prosador português, como vós descreveis a Natureza…Só a alma consegue descodificar as vossas palavras, e o vosso sentimento.
Um abraço do António Emídio