Desde a antiguidade que tem sido condenado o uso bárbaro de varejar as oliveiras. Propõem os entendidos que a apanha da azeitona se faça à mão, utilizando escadas e tesouras, ou usando canas flexíveis, tudo de modo a poupar os ramos tenros da árvore.
Apesar de todos os preceitos e avisos, a varejadura da oliveira continuou como prática arreigada através dos tempos, chegando aos nossos dias.
Para melhor se perceber a questão é mister ir ao encontro do tratado intitulado «Memórias e observações sobre o modo de aperfeiçoar a manufactura do azeite de oliveira em Portugal», remetido à Academia Real das Ciências de Lisboa em 1784 por João António Dalla Bella.
Ali se descreve, de modo eloquente, o errado processo de apanhar azeitonas:
«Sucede ordinariamente, que pelo meio do mês de Outubro principiam as azeitonas a cair (….).
Chegado esse tempo, que geralmente se toma por aquele em que as azeitonas são maduras, cada um procura principiar a sua colheita. Veem-se então (…) famílias inteiras com paus de diferentes medidas. E algumas de comprimento desmarcado e da matéria mais dura que se pôde achar.
Cada uma dessas famílias, tomadas ao serviço dos donos ou rendeiros dos olivais, começa a fazer a colheita. Os moços mais robustos e fortes principiam a varejar as azeitonas; e quanto mais depressa descarregarem uma árvore, tanto mais valentes e desembaraçados são julgados no trabalho.
Aqui, desafiando-se qual mais depressa varejará a sua oliveira, principiam sem regra, sem descrição, sem misericórdia, a varejar aquela benéfica árvore com tanta força, que lançam abaixo as azeitonas mais pegadas, os ramos mais tenros, e lascam e quebram os ramos mais grossos e velhos, e deixam a mísera oliveira quase despojada de folhas, cheia de mataduras, de golpes e feridas, como se grossa saraiva enfurecida por ventos impetuosos tivesse caído sobre elas.»
Em tempos mais recentes, sem ter sido, de todo, abandonado o varejão, muitos proprietários de oliveiras mandam fazer a apanha com maior cautela. É comum começarem a campanha mais cedo, usando varas flexíveis e estendendo mantas à roda da árvore, para que as azeitonas se não molestem na queda e se não misturem com a terra.
A evolução tecnológica levou entretanto à introdução de máquinas que sacodem a árvore para assim derribarem os frutos, que são recolhidos pela mesma ou por outra máquina, que os separa e limpa.
Muitas vezes, porém, o engenho agita a pobre oliveira com tamanha violência que a mesma se recente, ficando fragilizada. A vibração frenética da árvore não tem os efeitos nocivos do varejamento descuidado, mas é manifestamente nefasta para a oliveira e até para o operador da máquina.
Noutros casos usa-se mesmo uma calda química que fragiliza o caule da azeitona, facilitando o derrube pelas máquinas.
O que diria, nos tempos de hoje, o Dr Dalla Bella face aos novos métodos de safra da azeitona?
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Por Paulo Leitão Batista
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