As mulheres têm tido detratores em todos os tempos, mas há quem atribua a Simónides, poeta lírico nascido na ilha de Ceos, na Antiga Grécia, a rábula de maior mau gosto sobre a condição feminina.
Entre os afamados detratores das mulheres contam-se nomes como: Eurípedes, Aristófanes, Juvenal, Ariosto, Brantome, Marot, Rabelais, Moliére, La-Fontaine, Boileau. Mas o considerado mais inconveniente foi aliás o primeiro que escreveu contra o belo sexo: o poeta grego Simónides.
Resumimos seguidamente a sua longa e perniciosa sátira:
No começo criou Deus as almas femininas, separadas dos seus corpos, tirando-as de diferentes origens.
A primeira sorte tirou-a dos elementos que constituem o porco. Uma mulher dessa ordem é sempre enxovalhadíssima nos seus vestidos e a casa de que cuida compara-se a uma estrebaria.
Tirou a segunda sorte de almas femininas dos materiais que serviram para formar a raposa. As mulheres que daqui descendem têm bastante discernimento, conhecendo o bem e o mal, são metediças e nada lhes escapa.
A terceira sorte de almas foi retirada das partículas caninas, pelo que as mulheres daqui provindas são como os cães: ralhadoras e raivosas.
A quarta sorte foi colhida da terra. As que daqui derivam são preguiçosas, vivem na ignorância e na inação, em nada mais pensando que em comer e beber.
A quinta sorte foi tirada do mar. Assim como o mar passa da tempestade para a tranquilidade, as mulheres que dele saíram passam facilmente de um estado pacífico e de bom humor para o furor e a raiva, que se assemelha ao furacão e ao raio.
A sexta sorte foi composta dos elementos que servem para formar o burro. Estas mulheres são de uma preguiça extraordinária, mas se os maridos as instigam põem tudo em prática para lhes agradar e não são inimigas dos prazeres do amor.
A sétima sorte foi fornecida pelos elementos que formam o gato. São melancólicas e rebeldes ao amor. Mas também são bastante amigas do alheio e muito atrevidas nas velhacarias.
A oitava mulher foi composta a partir do jumento de crina flutuante, que nunca sentiu jugo. Estas não têm consideração pelos maridos e passam todo o seu tempo no toucador, embelezando-se.
A nona sorte deve a sua extração ao macaco. É feia e maliciosa, nada tendo de bom e procurando sempre ridicularizar o que agrada aos outros.
Enfim, a décima, e última, foi tirada da abelha. Feliz do homem que encontra uma destas criaturas e a toma por sua mulher. Não tem vícios, a família prospera porque tudo floresce na casa em que ela vive. É para Simónides esta a única que merece o simpático nome de mulher, porque as mais são a negação do belo.
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Por Paulo Leitão Batista
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