Não irei escrever da sua orientação e actuação políticas, mas sim da sua conduta pessoal. Filho de de D.João VI e da espanhola Carlota Joaquina de Bourbon, teve uma educação nada condizente com a sua posição. Um inglês que nessa altura vivia no Paço e era secretário particular de Dona Carlota, disse o seguinte: «Se dessem a este menino a educação que precisava viria a ser um herói… assim será um tigre, o flagelo dos que tiverem de aturá-lo.»
Acontece que a educação que teve D.Miguel foi a mesma do seu irmão e adversário político D.Pedro, primeiro Imperador do Brasil, este um dia respondeu a um fidalgo que o censurou de uma atitude menos educada: «Desculpa. Nós fomos educados como lacaios.»
D.Miguel gostava de pregar partidas a toda a gente, desde os cortesãos aos criados, chegou a espancar aias, furar galinhas com saca rolhas e, artilhar a porta do quarto com pequenos canhões que disparava quando alguém passava por perto!
Mas o que lhe quero relatar querido(a) leitor(a) foi a máxima das máximas travessuras de D.Miguel: introduzir um touro na sala do Trono no dia em que seu pai D.João VI fazia anos e era dia de Beija-Mão Real. Isto passou-se em Salvaterra. Os altos dignitários iam chegando a Salvaterra, desde militares a magistrados, passando pelos embaixadores estrangeiros, as portas da sala davam para um esplêndido jardim. Toda esta aristocracia levava vestido o que tinha de melhor, principalmente as senhoras com os seus decotes bem acentuados e cheios de jóias, falava-se baixo, como é natural. Passados uns minutos, quando já estavam todos os convidados, ouviu-se um ruído vindo de fora, toda a gente pensou que tinha chegado El-Rei, mas não era, era um touro negro e extremamente corpulento, que D.Miguel mais meia dúzia de valentões introduziram na sala!!! O animal também ficou surpreendido quando viu aquela gente toda, não queria avançar, então D.Miguel pregou-lhe uma grande ferroada, já imaginou o pandemónio querido(a) leitor(a)? Ainda para mais, o D.Miguel e os camaradas fecharam todas as portas!
Isto que aqui escrevi foi retirado do livro de Virgílio Arruda intitulado – D.Pedro e D.Miguel, do Brasil ao Ribatejo, 1972. O autor do livro não acredita muito nesta história, ou por outra, acreditar, acredita, mas prefere dizer que não era um touro de lide, mas um simples bezerro embolado. Fosse como fosse, foi uma atitude mais que irresponsável e só demonstra a personalidade de D.Miguel.
O Marquês de Alorna nas suas memórias escreve que viu D.Miguel algumas vezes vestido com o uniforme de General, agarrado ao rabo de um novilho!
No livro da história do fado de Pinto de Carvalho (1903) na página 35 lê-se o seguinte : «A fadistagem também se recruta na burguezia, e até na aristocracia como se viu com o D. Miguel e o D. Rodrigo Souto de El-Rei (…) eram dois fadistões que perpetraram um assassínio no Alto do Pina.»
D. Miguel não se livra da fama de «arquivar» tipos com quem embirrava…
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
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