O meu plano é trazer aqui um resumo dos 38 meses e 11 dias da minha tropa: desde 21 de Julho de 1971 (entrada no Curso de Oficiais Milicianos da Escola Prática de Infantaria de Mafra) até 2 de Outubro de 1974 (aterragem no aeroporto militar de Lisboa, vindos de Luanda). Trarei apenas episódios marcantes, nunca esquecidos, que dormem acordados nos recantos da minha memória.
![Recruta e Treino em Lamego - Capeia Arraiana](https://i0.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2018/09/jcmendes_diastropa_20180922_590x413_01.jpg?resize=590%2C413&ssl=1)
Pensei que hoje tinha de descrever algumas das operações, a fim de dar uma ideia ao leitor de como tudo se passava.
Mas fui feliz: veio-me parar às mãos um pequeno vídeo de menos de 9 minutos – levo-o até si, mas com os alertas necessários.
Aliás, no final da crónica tem acesso a outro vídeo – esse mais pacífico, penso eu. Ou seja: hoje a crónica é muito audiovisual. E ainda bem.
Um vídeo de loucos
Aviso desde já: este vídeo devia ter bolinha vermelha por razões de violência. Parece que os instruendos estão a ser agredidos. Mas do ponto de vista técnico e jurídico não é isso: chama-se treino!
Portanto, aqui fica o aviso aos mais incautos: veja e, se achar demasiado violento, aconselho a que de imediato desligue e siga em frente.
OK?
É nessa condição que aqui deixo a todos o resumo das 11 operações de Lamego / Rangers / Operações Especiais…
O «espírito Ranger» no seu melhor e no seu pior…
Mas nem tudo são opiniões objectivas nestas matérias. Muitas pessoas perdem a tramontana ao analisarem o antes e o agora dos treinos…
Há tempos, um ex-camarada, saudosista e pouco actualizado (entendo eu), a propósito de uma reportagem da SIS sobre os Rangers, escreveu assim:
«Tenho pena do pessoal que está a entrar agora, penso que nunca saberão realmente o que é o mítico espírito Ranger. Não desvalorizando o trabalho que cada um passa agora, mas a verdade é que está deixar de ser como era, o exército está em extrema necessidade de homens e praticamente oferece boinas, é triste e revoltante para mim e para todos os camaradas que suaram sangue e lágrimas para poder gritar Ranger e ter a boina, porque agora qualquer rapaz consegue a boina. Quem me dera o tempo voltar atrás, existe pessoas que eu conheci e não conheci que fazem uma falta ENORME nesta força, para ensinar o verdadeiro espírito, vontade e valor.
Os comandantes agora são super-protectores em relação às «praxes» com os novos soldados que acabaram o curso, sem completa noção do quanto uma pessoa cresce com as «praxes» na FOE, é aí que nasce o verdadeiro espírito dentro da força, é aí que nasce o verdadeiro respeito e camaradagem.
Só Deus sabe o que nós choramos e sonhamos com o dia de receber a boina, cada minuto do curso a sonhar com o momento, era só isso que nos interessava, alcançar a boina, e agradeço muito por não nos terem facilitado o caminho, porque uma coisa para ser especial tem que ser difícil de alcançar, tem que se merecer realmente, agradeço por ter sido «praxado» de verdade, para mim existiu algumas noites de praxe piores que algumas noites de curso, «o curso nunca acaba» e é assim que tem de ser, o difícil não é só ganhá-la, É MANTÊ-LA, só quem foi PRAÇA sabe o que isto é.
Em relação a quem quer ir para Lamego nos próximos anos, a culpa não é vossa, mas provavelmente nunca irão se sentir realmente Rangers, porque os comandantes hoje em dia não deixam, eles querem é pessoal, seja pessoal merecedor ou não, o que importa é ter pessoal.
Um abraço a todos os Sargentos, Adjuntos, 1.º Cabos, 2.º Cabos, Soldados e (alguns) oficiais que tive o prazer de viver isto, e tanto aprendi com alguns de vocês».
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Tenho então agora de colocar essa reportagem da SIC ao seu dispor: clique aqui e «divirta-se» com estas desgraças a que chamam treino especial…
Até para a semana!
(Continua.)
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«1971-74 – Os Dias da Tropa», por José Carlos Mendes
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