O mundo está repleto de preconceitos, dentre eles o da roupa que se veste. Na década de 1960, um estilo novo que surgiu entre a juventude – o casaco com racha atrás – causou a ira e a indignação dos que rapidamente conotaram o uso dessa peça de vestuário com um desvio de sexualidade.
No Portugal salazarista a juventude estudantil e citadina mantinha uma certa vida boémia invariavelmente ligada a duas práticas arreigadas e popularizadas: o futebol e as jantaradas. Nos anos 60, com o advento de influências vindas do estrangeiro, nomeadamente de França, onde os jovens estudantes se manifestavam em desafio à ordem estabelecida, chegam outras formas de estar e conviver, que se somaram ao chuto na bola e ao encher da pança. Exemplos disso foram os novos e diferentes estilos de vestir, calçar e pentear.
No que toca ao vestir surgiram diferentes e extravagantes peças de roupa, o que indignou os moralistas da época. A reação conservadora foi de tal ordem que se chegou ao cúmulo de, em Coimbra, cidade prenhe de «estudantada», se realizar uma feroz e colérica manifestação contra alguns estudantes suspeitos de homossexualidade em virtude do estilo incomum de vestir. O pormenor mais chocante e alvitrante era o uso que faziam de uns casacos com racha atrás.
Ter racha atrás no casaco era uma indignidade, porque feria os bons costumes e revelava um modo «apaneleirado» de estar na vida, que era intolerável para os homens de então.
Os tempos mudaram, porque o mundo avança por mais que alguns o tentem evitar. O casaco contendo atrás uma racha passou a ser algo absolutamente normal e sem qualquer conotação de natureza sexual.
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Por Paulo Leitão Batista
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