É impossível ficar indiferente ao saber a história de uma estilista que marcou a moda, numa época em que os homens dominavam todos os setores económicos e socais. Sem eu saber porquê, a minha filha mais nova não para de falar na Chanel e de como gostaria de ter uma das suas milionárias peças. Tanto tem falado nesta marca de alta-costura, que me senti obrigado a fazer uma pequena investigação, e acreditem, fiquei agradavelmente surpreendido.
É a única estilista presente na lista das cem pessoas mais importantes da história do século XX da revista Time
Grabielle Bonheur Chanel, francesa, nasceu em 1883, em Saumur, tendo ficado órfã de mãe com 12 anos, tendo sido com sua irmã internada num orfanato católico na cidade de Aubazine (Colégio Nossa Senhora da Misericórdia). Os chapéus brancos das Irmãs, com um formato invulgar, foi logo um dos aspetos que mais prendeu o olhar de Gabrielle, bem como o contraste do branco e negro dos paramentos, com formas retangulares.
Levou uma juventude no limiar da pobreza, sempre internada em instituições da Igreja Católica, onde lhe foi ensinada a arte de costurar e «abertas» as portas para o futuro que viria a ter.
Para ganhar um dinheiro extra, tentou a sorte fora de horas como cantora num café concerto de Moulins, foi a localidade francesa onde passou a maior parte do tempo da sua juventude, ficando conhecido por «Coco» por interpretar a canção «Qui qu’a vu Coco dans le Trocadéro». Conheceu aí um jovem oficial de cavalaria, Etienne Balsan, que a ajudou no seu futuro.
Etienne era um abastado aristocrata, proprietário de fábricas de tecidos, que tinha uma mansão nos arredores de Paris, e conhecia a alta sociedade, nomeadamente gente ligada à cultura.
Não consegui apurar se terá havido alguma relação amorosa entre Coco e Etienne, no entanto o que fica registado para memória futura foi que existiu uma grande amizade entre eles e Etienne foi essencial no sucesso de Coco. Inicialmente Coco começou a desenhar chapéus para as senhoras diferentes do habitual, inspirados nos chapeis de coco masculinos, para que os rostos das mulheres ficassem mais visíveis. Por outro lado retirando grande parte dos ornamentos a expressão da mulher ficava mais marcante.
Através dos amigos de Etienne descobriu o amor da sua vida. Um jovem aristocrata inglês, Arthur Capel, que mais tarde morre num acidente de viação. Esta relação foi marcante no que viria a tornar-se.
Capel, por ser aristocrata, nunca poderia casar com uma plebeia. Então Coco entende que será sempre uma amante, mas procura usufruir da fortuna do inglês. Com o seu dinheiro monta uma prestigiada casa de chapéus, em Paris, promovendo o produto pelo qual já era conhecida. Apurei igualmente que todo o negócio sempre foi gerido por Coco, e o facto da morte prematura do amante, prova exatamente a sua capacidade de gestão e visão estratégica de negócio.
A arte de costura, que aprendeu com as freiras do Institut Notre-Dame de Moulins, acaba por lhe abrir os horizontes para a diversificação da sua casa comercial. Detestava a roupa espartilhada da mulher e começa a desenvolver produtos ligados ao homem, como as calças, roupas largas inspiradas nos pijamas, e rapidamente a sua tendência de moda revolucionária começa a ganhar mercado no mundo feminino. O facto de a roupa ser diferente tinha que ser mais cara.

A sua empresa cresceu assustadoramente tendo sobrevivido à Segunda Guerra Mundial e a todos os contratempos económicos até hoje. Passou por dificuldades, sendo obrigada a emigrar para a Suíça por motivos políticos. No período da ocupação alemã terá tido um romance com um oficial alemão, facto que os franceses nunca lhe perdoaram.
Nunca parou de trabalhar. Morreu num domingo, em 1971, apos ter desenhado a coleção para a estação seguinte.
A sua roupa passou rapidamente para a escala global, tendo muitas atrizes de Hollywood vestido moda Chanel. Mas foi a primeira-dama americana, Jackeline Kennedy, que mais contribuiu para a divulgação da sua marca em todo o mundo.
Pessoalmente fiquei fascinado por ter «conhecido» Gabrielle Chanel. É um exemplo de que, mesmo nos tempos em que as mulheres estavam predestinadas aos tachos e à educação das crianças, sabiam, tal como os homens, marcar a diferença e conquistar impérios económicos.
«Enchanté Mademoiselle!»
Sim, nunca permitiu que a tratassem por Madame!
Paris (Place Vendôme), 20 de agosto de 2018
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
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