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Página Principal  /  Aldeia de Joanes • Bismula • Rapoula do Côa • Valongo do Côa  /  Moinhos
13 Agosto 2018

Moinhos

Por António Alves Fernandes
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes, Bismula, Rapoula do Côa, Valongo do Côa antónio alves fernandes, moinhos Deixar Comentário

Na complementaridade do Ciclo do Pão, hoje escrevo sobre moinhos. No Concelho do Sabugal, nas margens das ribeiras, e principalmente do Rio Côa, existiam muitos, de salientar na Rapoula e Valongo do Côa. Em outras paragens do País chamam-lhe azenhas.

Moinho no Marenhol

Além da simpática, trabalhadora e vigilante figura do moleiro, também o pequeno edifício tinha o seu encanto ambiental e natural. Moinhos de rústica aparência que datam de remotos tempos, num sistema de rodízios, com rodas interiores, que com a força da água encanada dos açudes faziam girar as mós em movimentos incessantes, onde caíam os grãos de cereal. Ainda tenho na memória o murmúrio das águas sintonizado com os movimentos das mós.

Os moinhos, além do centeio, moíam trigo, cevada e milho. Crianças, muitos de nós, gostávamos de ser moleiros, porque moíamos a farinha para fazer o pão e as milharadas que comíamos no tempo das ceifas e dos dias festivos.

Também era interessante vermos o moleiro ao lado do transporte e a distribuição dos sacos de farinha através de uma burra com uma campainha pendurada ao pescoço.

Moinho na Tapada Ribeira

Dali saia a farinha, para mais tarde entrar amassada, com fermento à mistura, ficava levedada, entrava no forno comunitário, situado na Rua da Procissão, um património urbano ainda existente. Dava-se a lenha, giestas, ramos de pinheiro, pagava-se a pua, e recebia-se das mãos da Tia Maria Forneira o número de pães de centeio de direito. Também se faziam umas broas de cevada, das quais gostava imenso e nunca mais saboreei. O pão era um alimento fundamental naquela época. Era fruto do trabalho e do suor de todos. Não era só de alguns.

Quando o movimento da moagem apertava, íamos ao Moinho de Valongo do Côa, precisamente no rio com o mesmo nome, depois de atravessarmos a aldeia e um comprido pontão.

Na minha aldeia, a Bismula, conheci dois moinhos, não muito longe um do outro. Estavam instalados na Ribeira da Nave, um no Baixo Marinhol e o outro na Tapada Ribeira. Fui muitas vezes com o meu Pai, com a burra farrusca carregada com sacos de centeio, ao Moinho da Tapada Ribeira, atravessando caminhos íngremes e difíceis, como eram os do ciclo do pão. A minha avó tinha nas suas proximidades terras de cultivo, talvez a razão porque ali nos deslocávamos, onde desfrutávamos de um certo apoio logístico. Por cada alqueire de centeio recebiam-se oito quilos de farinha, já com o desconto da maquia, que pagava os serviços do moleiro. Não havia dinheiros.

Ribeira da Nave

As águas do açude da Tapada Ribeira abasteciam o moinho, regavam as nossas leiras, local dos nossos banhos, de pesca, habitat e refúgio de galinholas e pica-peixes, paraíso de nenúfares.

Este cenário inspirou-me estes simples versos: «O Açude da Tapada Ribeira/Tão antigo como a Terra/Já não volta à eira/Como já foi em outras eras.»

Em 1909 as enxurradas destruíram muitos moinhos, principalmente os das margens do Rio Côa. Actualmente, com a desertificação das nossas populações, sem afectos pelo património, a maioria está abandonada, não faltam moinhos destruídos e escancarados.

Moinho da Tapada Ribeira

Quando percorro esses territórios a minha alma fica dorida com tanta destruição de um património rural que nos deu a sobrevivência.
Lembro-me dos moinhos descritos por Cervantes em «Dom Quixote». Os moinhos já não têm a forma alucinatória de gigantes, são anões em ruínas.

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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes

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