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Página Principal  /  Passeio pelo Côa • Sabugal  /  Passeio matinal
24 Julho 2018

Passeio matinal

Por António Emídio
Passeio pelo Côa, Sabugal antónio emídio Deixar Comentário

Passeei numa destas belas manhãs de Julho através do tardio Verão, esta já estava presente em cada folha de árvore em cada canto de passarinho e nos tapetes de flores que enfeitavam os caminhos. Não ia só, levava comigo um passado já distante.

Passeio matinal pelos campos do Sabugal - capeiaarraiana.pt
Passeio matinal pelos campos do Sabugal

Passei pelo Outeiro, veio à minha lembrança o bater do trigo, do som dorido e suado do mangual, da bilha de água fresca que enchia o copo e passava de mão em mão, abençoado refrigério! Lá estava aquele quadro pintado pela minha recordação, mas ainda não arruinado nem esquecido pelos anos que já vivi.

A porta cinzenta do cemitério estava aberta, não para dar entrada a nenhum morto, mas sim saída a um vivo que foi rezar uma negra oração de morte, os majestosos ciprestes pareciam sacerdotes velando pelos túmulos com as suas cruzes de mármore e pedra. Segui caminho recordando a negridão de tantos enterros.

Ó presença irreal! Chamou-te o distante passado, continuas triste e curvado, o que procuras na alta relva desse lameiro que já foi teu? A morte? Essa já te levou, não sei quando, não sei como, nunca soube o teu nome, mas tanto me intrigaste com esse teu corpo curvado pelo trabalho e pelo cansaço, corpo já pendendo para a sepultura. Vejo-te caminhando para o Infinito… Vai! Vai! A morte tudo leva.

A noite escura pariu um Sol radiante, tudo resplandecia, raios de Sol isolados penetravam nos caminhos através das aberturas na folhagem, eram túneis verdes cheios de vida, o silêncio só era quebrado pelo chilrear dos pássaros que habitavam toda aquela beleza, recordei o Outono quando percorri o mesmo caminho sobre folhas caídas. Nascer e morrer, a verdade suprema que o Homem não consegue negar.

Num verde e sereno lameiro pastavam pachorrentas vacas, o meu olhar perdeu-se naquele retouçar lento e compassado. Desci então até ao Côa, descansei um pouco à sombra dos seus amieiros, o distante passado que me acompanhava deixou-me ver a minha juventude mergulhar nas águas daquele pego e nadar até à exaustão, deixou-me ver o primitivo açude por onde passava através das pedras soltas para um remanso onde descansava e me aquecia ao Sol.

Lá estava o moinho do «Ti Zé», ambos são já passado e Saudade, a um espera-o a ruína, a ferrugem, o musgo e as ervas a saírem das paredes esburacadas, ao outro espera-o a Eternidade, a levada chora mansamente, sabe que de Saudade também se morre.

E eu, sempre seguindo o meu caminho em comunhão com a natureza, cheguei a casa e escrevi, escrevi debaixo das ordens de uma tecnologia que quer forçosamente assenhorear-se do meu lado humano.

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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008.)

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Origens: Sabugal :: :: Crónica: «Passeio pelo Côa» :: ::

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