Só os espíritos movidos pela inquietação são capazes de criar algo espiritual e metafísico, porque a sua vida está mais dentro deles do que fora. Esses espíritos são eles próprios não são aquilo a que o meio em que estão inseridos os quer obrigar a ser, são livres.
Olho através da janela, uma leve brisa sussurrante acaricia a folhagem brandamente, ao longe, uma casa perdida entre austeras árvores, pertenceu a seres que já desapareceram da minha memória, velha casa, já só se alojam em ti velhas sombras de um passado distante.
Duas cegonhas sobrevoam esta paisagem, parecem anjos vindos do infinito do Céu, os seus corações estão repletos de paz, partiram! Deixei de as ver, foram até ao Limbo onde estão os inocentes filhos.
Mais abaixo, para além do verde escuro das giestas está o Côa, as suas águas murmuram distantes, não as ouço, mas tenho esse eterno murmúrio nos meus ouvidos…
Castelos de nuvens surgem do longínquo horizonte, fecho a janela, abro um livro, leio, nada quebra o silêncio, leio até adormecer no regaço da paz do entardecer.
:: ::
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
:: ::
Maria Rosa Afonso :
Procuro Paz, Paz interior…
António Emídio
Muito bonito. É poesia, filosofia, vida, fuga ao quotidiano…, sempre na procura de uma outra coisa.