Medir e pesar – questões hoje muito simples: ou é em litros ou é em quilos – e pronto… Mas nem sempre foi assim.
Dantes, como se media a bebida, os líquidos? E a moeda como era referida? Os sólidos, a batata, o grão… como se pesavam – melhor, como se indicava o peso, por exemplo, da batata colhida ou da que se ia vender?
Palavras hoje estranhas?
No acto da venda do vinho ou da compra de batata de semente, os indicadores de peso e de medida não eram em geral os mesmos que hoje usamos.
Até a moeda que circulava era outra – o escudo – e disso ainda quase todos se lembram, embora para muitos de nós hoje já não seja simples a conversão, tal foi o domínio do euro…
E, coisa mais séria, a geração anterior à minha ainda tinha muito presente o real (moeda do tempo da Monarquia, como se sabe).
Hoje, faz-me confusão quando alguém ainda fala em «contos» ou em escudos porque o meu cérebro já não está aí (nem pode – poupança de energias e adaptação).
No local da festa no Casteleiro
Imaginem então, quando eu era miúdo, ouvir os pais e tios e vizinhos entenderem-se não em escudos mas falarem de «tantos mil réis».
Claro: uma pessoa habitua-se e nem dá por ela.
Mas quando se chega à escola ou se sai da terra para estudar… e depois se volta, já fazia muita diferença, embora a relação decimal fosse mais clássica e simples do que esta «actual» relação de 200 (escudos) para 1 (euro) ou de 1 («conto») para 5 (euros).
Medir os sólidos…
As designações das medidas usadas para os sólidos (centeio – «pão» –, batata, milho etc.) são as que seguem. Pelo menos as principais, que serão aquelas de que me lembro melhor. Exemplifico logo a que mais se aplicavam, para melhor entendimento ou rememoração.
– Uma arroba de batata: 15 quilos.
– Um alqueire de pão (ou um meio ou uma quarta de pão – metade de um meio, um quarto – sempre relativamente ao alqueire, claro).
– Um alqueire, eram mais ou menos 14 litros: 14 quilos, aproximadamente.
– Um quarteirão de sardinhas = 25.
Mas usavam-se formas menos rigorosas de «medir» certos produtos, em situações determinadas. Por exemplo: uma carrada de lenha se fosse no carro de vacas; uma carga de lenha se fosse na burra; um alforge de produtos da terra, assente na albarda da burra; uma saca de milho ou uma fatcha de palha (um feixe), um cesto ou uma cesta de batatas… Eram medidas nada exactas mas bem certas para os agricultores desse tempo da minha infância.
Para nós, crianças, era perfeitamente natural e rigoroso ir à senhora que tinha laranjas e as trocava e trazer uma cesta de laranjas em troca de uma cesta de batatas…
Outra medida – a onça –, essa, já não se usava. Mas ainda se falava e até ainda hoje se fala de «uma onça de tabaco». E, do velho arrátel, já nem se falava naquele tempo.
Outra medida, a onça, essa, também já não se usava. Mas ainda se falava e até ainda hoje se fala de «uma onça de tabaco». E, do velho arrátel, já nem se falava naquele tempo.
Uma nota ainda: pelo menos três das palavras que leu têm origem etimológica no árabe. Falo do almude (al-mude = «medida de grãos»); do alqueire (al kayl = bolsa de carga no dorso dos animais, sempre com determinado peso, mais ou menos sempre o mesmo); e do alforge (al-khurj = «sacola»).
Quanto aos objectos-medida: o alqueire era feito de madeira; o almude era de latão; o alforge, de tecido.
Para os líquidos…
Parece-me que para os líquidos (a água, mas, sobretudo, o azeite e o vinho) era mais variada a nomenclatura popular alusiva às medidas. Até porque pelo meio havia as medidas da pinga, quer na adega quer na tasca – e isso era coisa muito, mas muito séria…
Assim, aquelas de que me lembro ficam aí adiante registadas.
A água era transportada em cântaros. Mas essa medida não tinha rigor – porque a água não tinha valor económico propriamente dito a esse nível. Era essencial a água no poço ou na mina – mas para regar as terras e não para as trocas ou vendas.
Já com o vinho ou o azeite, a coisa era diferente. O azeite, tanto quanto me lembro, era medido e referido em alqueires (é estranho, mas acho que era assim):
– Este ano, colhemos trinta alqueires de azeite.
E para o azeite, sempre ouvi falar de «bilha» e de «pote».
Para o vinho, havia uma panóplia de medidas, desde as pequeninas como o copo de três até às «gigantescas» como a pipa (que podia ir aos 300 ou 400 litros, pelo que me lembro). Seguiam-se: a pipa, o pipo (mais pequeno), o barrico (mais pequeno ainda). Havia outra palavra, mas menos usada: barril. Talvez portanto «barrico» fosse apenas uma corruptela popular dessa outra palavra (barril).
Na tasca e para pequenas vendas falava-se de uma garrafa, um quartilho ou meio quartilho de vinho e, ao balcão (de madeira, claro, quando o havia), bebia-se um belo de um copo de três…
O resto das medidas fica para outra vez, para não enfadar.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
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