Nesta semana continuou-se a falar do Interior, um pouco por todo o lado… E, tenho de o confessar, no geral reforçou-se a minha desilusão quanto às propostas apresentadas e aos argumentos aduzidos.

E basta ler as declarações de Miguel Cadilhe ao Expresso de sábado passado para se perceber o que escrevi há oito dias, nomeadamente quanto à falta de uma visão estratégica para o Interior, talvez fruto de não haver um interior, mas muitos interiores.
Mas também o programa «Prós e Contras» da RTP de segunda feira mostrou como se continua a repisar velhos argumentos, mesmo quando travestidos em novas palavras.
E quero salientar dois aspetos que me parecem centrais a esta nova paixão pelo Interior:
1. Fala-se muito de despovoamento, o que sendo uma realidade, não deixa de ser um facto histórico português, ou já alguém se esqueceu que o cognome do segundo rei de Portugal, D. Sancho I, foi exatamente de «o Povoador»?
Não me parecendo que daqui a uns séculos Marcelo venha a ser conhecido pelo repovoador, já agora não era mau reler este texto. «Como as zonas de fronteira tinham pouca gente e portanto estavam à mercê de possíveis invasores, Dom Sancho I procurou atrair famílias para lá. Com essa intenção concedeu regalias a quem aí se quisesse instalar. As regalias de um lugar podiam ser, por exemplo, terras para cultivo, pastagens, dispensa de pagamento de alguns impostos, perdão de crimes, etc. Tudo isto era escrito numa Carta de Foral, que também incluía os deveres da população para com o rei. Ao todo Dom Sancho I assinou cinquenta e oito cartas de foral.»
Tantos séculos depois, parece que as soluções propostas não são muito diferentes…
2. Mas há ainda outra questão a que parece os novos amantes do interior têm esquecido. Há duas semanas o Expresso trazia um artigo sobre o desenvolvimento da cidade da Guarda. E tal podia ser escrito sobre a cidade de Castelo Branco, ou outra média cidade do Interior. E daí? O que ganha o concelho do Sabugal com tal desenvolvimento?
Nada se não se entender que as médias cidades e os aglomerados urbanos sob a sua influência têm de funcionar em rede.
Guarda, Sabugal, Almeida, Penamacor, Belmonte, Covilhã, Fundão, Castelo Branco, e os demais concelhos da Beira Interior têm de deixar de olhar para o seu umbigo e entender que não há alternativa para além de estabelecerem uma estratégia de desenvolvimento regional.
Claro que tem de haver mudanças de políticas a nível da Administração Central. Mas não chegam, disso tenho cada vez mais certezas.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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