Começo por referir que não sou um fiel seguidor do Festival da Eurovisão. Em todo o caso, colhi, de forma meramente ocasional, da cruzada festivaleira recentemente finalizada, algumas canções. Elegi duas delas para poder comparar: a vencedora e a que ficou em último lugar.
Devo assumir, claramente, a minha condição de leigo em matéria de música. Contudo, não me proíbo o gosto nem me subtraio a opinião.
E, porque às vezes os últimos até podem ser os primeiros, comecemos pela canção portuguesa. Reconheço-lhe uma letra simples mas com recheio de sensibilidade. Transmite uma mensagem clara. Concebe uma homenagem à avó da Isaura, autora da letra e da música, estreada na rememoração de lugares de infância. A melodia de «O Jardim» entrou-me agradavelmente no ouvido. Confesso que não desgostei.
Passemos então à canção vencedora. Não gostei da música. Não prezei a interpretação e não percebi patavina da letra. Uma «cantaroleta» que, na minha pessoalíssima opinião, em nada abonou a idoneidade do festival.
Só muito recentemente me foi presente a tradução da canção israelita. Uma lástima, direi! Continuei a não perceber. Nada do que compulsei fazia sentido. Sobejava, apenas e só, após uma sofrida tentativa de leitura, a sucessão de um «có-có-có-có-có» e várias fileiras de palavras desgarradas, sem nexo e quase a puxar a gargalhada.
Mas não, refleti eu, não era para rir. Ninguém deve rir-se da tristeza ainda que ela surja disfarçada de festa ou até de festival. Na verdade, o epílogo da indigesta decifração foi mais de azedume que de zombaria. Como era possível uma coisa assim?!
Remetido, sim, ao meu laicismo musical, não evito o lançamento da mais simples das questões: terá o Festival da Canção da Eurovisão alguma coisa a ver com talento ou qualidade?
Para mim, poderá ter a ver com muita coisa mas, sinceramente, a canção vencedora desta edição demonstrou um nível raso. Direi mais: com um triunfo desta estirpe e, face a tão evidente «cocozada», confesso até um certo orgulho por termos ficado em último.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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É evidente que quem gosta de música não pode ligar patavina ao Eurovisivo Festival… è o meu caso
Amigo capelo :
Não estranhes a vitória de Israel no Festival da Eurovisão, coincide com os festejos da Nakba e a matança de Gaza, 60 mortos e 2.500 feridos palestinos…
António Emídio