O burro é um animal doméstico que foi muito maltratado e desconsiderado ao longo dos séculos. Na verdade, a sua extrema paciência, o excelente temperamento, a perseverança no trabalho e a resignação nas longas fadigas, deveriam fazer dele um animal heróico e de elevadíssima consideração.

O burro passou pelas mais penosas privações e pelos mais duros trabalhos, o que não é nada consentâneo com o trato que geralmente se lhe deu. Considerado inferior ao cavalo em ardor, audácia, impetuosidade e nobreza, o burro foi o animal doméstico mais maltratado, sujeito a constantes trabalhos e uma mísera subsistência. Davam-lhe de comer os troços das plantas que os outros animais rejeitavam e dormia ao relento ou no pior canto dos estábulos.
Pois esse infeliz animal foi dos mais úteis ao Homem no seu labutar quotidiano. Bondoso e manso, o jumento era a alegria das crianças, que o montavam com segurança, sempre confiantes na sua docilidade.
Os velhinhos, cujas fracas forças os impediam de se dedicar a vigorosos trabalhos, entretinham-se no cultivo de pequenas hortas, sempre ajudados pelo manso e dócil burrinho, que também lhes fazia a melhor carava.
E atente-se que o asno tem referências históricas importantes. Foi sentada num burrinho que a grávida Maria de Nazaré chegou a Belém e foi nas palhinhas da manjedoura, defronte ao mesmo burrinho, que Jesus foi depositado, beneficiando do seu bafo quente e reconfortante.
O burro, que quase está desaparecido das nossas aldeias e dos campos, merece que o olhemos de outro modo e que lhe façamos justiça, reconsiderando-o. Ele é de facto digno da nossa admiração.
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«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
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