No tempo antigo havia muitos e variados modos de diversão, persistindo alguns ao longo dos séculos. Nos dias de hoje há ainda brincadeiras comuns que tiveram origem em tempos muitos remotos.

No antigo Egipto jogava-se como forma de passar o tempo e atribuía-se a criação dos jogos ao deus Thot, filho de Hermes. Porém um famoso historiador da Grécia antiga disse que os jogos tiveram origem entre o povo Lídio, na Ásia Menor. Esta tese ganhou vulto, a ponto de cuidarem alguns eruditos que a palavra latina ludus (jogo) provém de lídio.
Andavam os lídios cheios de fome, por escassez de cereais, e resolveram comer um dia sim e outro não. Face a tão dura provação, precisaram de ocupar o tempo para se distraírem da fome que irremediavelmente os assolava no dia em que não podiam tocar na comida. Foi assim que foram criados os jogos.
Havia porém entre os gregos quem afirmasse que os jogos tinham outra origem: a guerra de Troia. Palamedes, um dos heróis daquela longa contenda entre gregos e troianos, inventou um jogo de prendas para distrair as tropas sitiantes durante o longo e enfadonho tempo daquele cerco, que durou dez anos.
Também há referências a um jogo que entretinha os jovens de Atenas e de Esparta: o ascoliasmus. Jogava-se com um só pé, ou seja, ao pé-coxinho, num jogo aproximado ao que se praticava há umas décadas nas aldeias portuguesas: o jogo do homem. Saltavam com um só pé para cima de um odre cheio de vinho e untado com azeite, procurando equilibrar-se sobre a superfície instável e escorregadia. O malabarismo provocava a hilaridade da assistência, que ora aplaudia ora vaiava os competidores, num ambiente de grande alegria e constante gargalhada.
Ainda na Grécia antiga, era prática dos meninos cavalgarem sobre uma cana, cuja ponta arrastava pelo chão. O divertimento terá alastrado da Grécia para Roma e depois para o resto dos povos, a par com a erudição dos pensadores antigos, que igualmente irradiou pelo mundo. De resto essa brincadeira infantil perduraria no tempo até quase aos dias de hoje – dos mais velhos, quem não se lembra de em menino ter montado uma cana simulando que cavalgava a toda a brida?
Conta-se que Agesilau, rei de Esparta, andava a cavalo numa cana para divertir os seus filhos. Numa ocasião em que ele andava nessas cavalgadas entrou no seu palácio um jovem embaixador do rei da Pérsia que ficou de beiço caído, ao ver o rei espartano em tais altas e grotescas cavalarias. Sua Majestade não se descompôs e disse para o embasbacado embaixador:
– Guardai segredo do que vistes até serdes pai!
Algo de muito parecido aconteceu com o rei Henrique IV de França. Queria ele que os filhos lhe dessem o cognome de Bom, que de resto a posteridade lhe conservou. Morria por brincar com as crianças. Um dia entra o embaixador de Espanha quando El-Rei levava às cabritas o pequeno César de Vendome. Henrique IV não se envergonhou e, assumindo uma postura grave, entrou em diálogo com o visitante:
– Senhor Embaixador, sois pai?
– Sim, Real Senhor.
– Então, nesse caso, continuo.
Convenhamos que aquilo também não tinha outra saída!
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«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
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