A cidade exalava beleza exibindo o ar aristocrático com que vestia monumentos e construções arcaicas. Ostentava, sincronicamente, a elegância dos bairros mais modernos. E acordava…
Banhava-se num sol que crescia em tons de azul abrilhantando e envolvendo os casarios.
O dia nascia numa ambiência que se deixava temperar por um friozinho saboroso, provido de uma esperança perfumada e primaveril que vinha propor às pessoas algum desagasalho. Adivinhava-se o aparecimento de citadinos mais seguros e mais confiantes após o despojo de roupagens de inverno.
Felizmente, a Guarda, cidade de que hoje falo, ainda não é prodiga em eminentes zonas obscuras povoadas de drogas, de criminalidade, de prostituição, de violência. Nem tudo são desvantagens, neste Interior que preferimos. A verdade é que, a nossa urbe, ainda não contém o pior de certos submundos que caracterizam as grandes metrópoles. E essa probidade que lhe suspeitamos permite-a insinuar cenários isentos de qualquer poluição quer moral quer material e credibiliza a ostensível limpidez do amanhecer de hoje.
Seguiu, pois, a manhã, pela cidade quase calada, ela própria observando, anuindo aos sentimentos daqueles que a amam e que lhes dedicam respeito por tudo o que ela proporciona.
Em jeito de compensação o coração da urbe contagia-nos, alegrando-se e alegrando-nos com os seus canteiros, com as suas arvores a desabrochar, fazendo questão de nos brindar com o encanto da sua história, oferecendo-nos a beleza antiga das suas casas e ruas, das suas praças e recantos.
Assim progride a manhã até se transmutar em dia feito.
Esperamos ainda pelas gentes, pelas personagens que, nesta abrangência, começam a movimentar-se principiando labutas diárias, dando vida à pequena metrópole que já não dorme.
E, sim, continuaremos a contemplar a cidade neste estirar de manhã experimentando a estranha sensação de nos voltarmos a sentir como uma criança feliz que mantém um enorme desejo de correr, de saltar, de receber e retribuir sorrisos, abdicando sempre de qualquer solidão urbana.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Sempre inspirado. O que tu escreves fica sempre a saber a pouco. Abraço.
Bem haja ,Bela crónica. Gostei. (fernando bento-Guarda).