As últimas obras de recuperação da antiga capela da Senhora da Graça vieram possibilitar uma melhor compreensão e resposta para algumas interrogações que se podiam colocar.
Numa análise mais detalhada concluímos que as construções da Ermida são de várias épocas; foram crescendo conforme a fé dos devotos assim o permitia.
O que as obras vieram revelar, e que está à vista de todos, é um arco inacabado com algum valor e enquadramento históricos e com muitos mais anos que a portada aberta neste momento.
O Pároco da Igreja de Santa Maria do Castelo, já em 1758, faz a seguinte referência:
«Há também nesta Villa as antiguidades seguintes:
Primeiramente é de irem os Juizes e officiaes da Camera desta Villa, com varas alçadas em procissão a huma Ermida da invocação de Nossa Senhora da Graça, no termo da Villa de Sortelha, em dia de Nossa Senhora dos Prazeres.»
Pela descrição do Pároco de Santa Maria chegamos à conclusão de que a Ermida e a festa feita na Segunda-Feira de Pascoela é uma tradição com muitos séculos porque no século XVlll já é considerada uma antiguidade e já não se situa o seu início.
Os tempos mudam e os costumes acompanham a mudança, mas ainda hoje podemos concluir que ainda há resquícios das tradições de outrora. “O pão, as azeitonas e o vinho” que a mordomia disponibiliza aos peregrinos que aí vão nesse dia é uma tradição que vem de alguns séculos atrás.
A portada da capela é para mim a prova da antiguidade da mesma capela e da ermida na sua globalidade. No meu imaginário a capela foi destruída aquando das invasões francesas ou não tivesse tido lugar a Batalha do Gravato do outro lado do rio e não tivesse sido naquele lugar que o exército Anglo-luso passou para o embate com os franceses.
Após as invasões os tempos continuaram difíceis em grande parte do país, tanto pela escassez de recursos como de mão de obra especializada. Completar o arco que estava destruído era trabalho de artistas que não existiam, por isso só restava fazer a recuperação conforme as possibilidades do momento.
Louvo aqueles que tiveram a feliz ideia de recuperarem as pedras do arco antigo, mas, na minha opinião, não deviam ter pintado as pedras interiores porque também elas são testemunho de uma época e mereceriam mais respeito. Os técnicos de recuperação dizem que «pedras» não se pintam porque além de retirarmos a nobreza ao granito também não deixamos respirar a pedra.
Compete-nos a nós não deixarmos morrer uma tradição tão antiga e importante como o próprio motivo da festa que se realizou há poucos dias.
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«Memórias do Castelo», crónica de Romeu Bispo
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