É necessário e urgente a valorização do Monumento que é o Castelo do Sabugal, imagem presente de um passado mais ou menos longínquo, mas que teima em se afirmar aos olhos daqueles que passam por perto e não o valorizam porque o desconhecem.
Penso muitas vezes que o pior dos males, tanto a nível pessoal como colectivo, é a ignorância que nos tolhe a visão/interpretação do passado e não nos permite vislumbrar o futuro com todas as possibilidades que ele permite. Pode a realidade ser penosa e não nos deixar pôr em prática as nossas ideias, mas nada nos deveria cortar a possibilidade de sonhar com um mundo melhor em que todos pudéssemos encontrar a felicidade.
O Castelo além de Monumento físico que todos vemos tem um valor simbólico que vai para além da grandeza monumental e que muito poucos se apercebem e valorizam. Os naturais, pela proximidade e presença contínua nas suas vidas tendem a desvalorizar o que é seu, já estava lá antes de nascerem e vai continuar ali depois de morrerem, como aconteceu a muitas gerações de Sabugalenses.
Por experiência própria vi turistas e outros curiosos ficarem admirados e extasiados com o que viam e pensei várias vezes porque é que para mim, que nasci à sombra do Castelo, que rasguei as pernas quando trepei aquelas muralhas ainda de calções, significava tão pouco. Uma imagem guardo da minha adolescência que foi o desencanto que sofri com a visita ao Castelo de Guimarães. No meu imaginário o castelo, berço da nacionalidade devia ser de uma imponência que não devia ter comparação com aquele que eu conhecia tão bem, mas quando o vi senti alguma desilusão porque o «meu» Castelo não ficava atrás e que tinha uma grandiosidade e um esplendor ainda maiores e por essa razão merecia ser conhecido.
O Centro de interpretação do Castelo de cinco quinas pode focar muitos aspectos que vão desde o geográfico, morfológico e histórico.
Do primeiro haveria a referir a importância da sua localização porque o Sabugal ficava no extremo do Reino de Leão, na linha de defesa da raia leonesa, que num ato de arrojo do Rei Lavrador e não só, passou a fronteira, a raia, mais para oriente. Apesar da linha de fronteira se ter deslocado para a actual Raia, D. Dinis valorizou a fortificação que encontrou de forma a ser um centro importante do território conquistado.
O aspecto morfológico pode explorar a forma que assumiu, quem foi o responsável, quem interveio na construção, que significado está patente na forma pentagonal do castelo e da sua torre de menagem. Se examinarmos com alguma precisão a planta do castelo concluiremos que também este é pentagonal e não apenas a torre de menagem. Neste campo poderá valorizar-se o desenho do Duarte D’Armas com as medidas e outras referências ao monumento. O Castelo tem influências templárias mas até que ponto?
Alguém já estudou este fenómeno? O Sabugal tem presença templária e não é por acaso que ainda anda na memória dos mais velhos a igreja de Santa Maria Madalena; a rua que vai da Igreja da Misericórdia à rua Infante D. Henrique era conhecida pelo povo como a rua da Madanela, ou mais correctamente da Madalena. Mais uma vez o «Fotógrafo» Duarte D’Armas dá-nos a conhecer onde teria estado essa referida igreja e o cemitério próximo, zona onde foram encontradas pedras tumulares medievais. Também é do conhecimento de alguns estudiosos a doação de algumas casas, fora de muralhas, que D. Dinis fez ao último Grão-Mestre dos Templários.
O último aspecto pode focar muitos factos importantes da história de Portugal e não só.
Estamos numa zona de fronteira e o nosso castelo pode transformar-se num elemento de ligação entre os povos da Península Ibérica. São muitos os espanhóis que solitários ou em grupos visitam o nosso castelo porque valorizam este tipo de construções e sabem do seu significado, no contexto onde se situa.
A exposição que esteve patente no Museu sobre D. Dinis aflorava muitos aspectos da vida do primeiro monarca português da região de Riba Côa, região que valorizava e que por essa razão a visitou uma dezena de vezes. O nosso Castelo é uma das suas construções, logo este era um dos temas que podia ser tratado, com interesse a nível geral e escolar em particular. Se os alunos das nossas escolas aprendessem alguma coisa com a visita, possivelmente haveria interesse nas visitas que as escolas fariam e que os professores de história promoveriam.
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«Memórias do Castelo», crónica de Romeu Bispo
caro Romeu
Não posso estar mais de acordo contigo.
E sou ainda mais ambicioso, transformando a tua proposta de Centro de Interpretação do castelo, num Centro de Interpretação da história medieval do que é hoje o Concelho do Sabugal.