Marcas do tempo em que vivemos: a mudança e os inevitáveis paradoxos. Seja por que voragem for: a da tecnologia, a da internet, a das redes sociais, a da comunicação social…, parece que vivemos, como nunca, num mundo em permanente mutação, onde tudo é transitório, onde tudo é descartável, como se de repente nada fosse para permanecer no tempo.
O ritmo e a abrangência desta mudança tornam a vida mais imprevisível e mais contingente. Nada se estabiliza verdadeiramente, nem ao nível do conhecimento, nem da técnica, nem dos valores, nem da informação… O que ontem era novo, hoje é já velho, sem que tenha havido tempo para o conhecer, compreender e viver – única maneira de tornar algo significativo em nós.
Ao mesmo tempo, referências que antes considerávamos seguras, de origem familiar, religiosa, cultural…, foram perdendo relevância, na vida e no quotidiano de cada um. Influenciados por modas e consumos – onde o marketing e a publicidade, cada vez mais agressivos e direcionados, seja para vender o alimento biológico, o suplemento milagroso, a última geração de computador, de telemóvel, de carro…, ditam as regras – decidimos, muitas vezes, sem ver claro as prioridades.
Neste processo, sem nos darmos conta, vamos ficando menos livres. O que é paradoxal com a perceção de que, ligados a redes, com possibilidades infinitas, caminhamos para a autossuficiência e a realização individual, onde cada um pode dar valor e importância ao que bem entender, conforme os seus desejos e os seus interesses – a felicidade estaria a uma curta distância.
Ainda assim, nem a autossuficiência chegou e nem a felicidade é permanente. Portanto, o desafio é perceber de que modo se podem criar compatibilidades, com o que temos ao dispor, em vez de acentuar oposições. Por exemplo, poderíamos começar por valorizar gestos humanos simples, de consideração e de disponibilidade: olhar as pessoas, dizer bom dia, perguntar se estão bem, se precisam de alguma coisa… Temo que, um dia qualquer, daqui a algumas gerações (reconheço que é grande a minha crença na humanidade), isto se torne uma quase impossibilidade.
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«Rostos e Contextos», crónica de Maria Rosa Afonso
Documento muito lúcido sobre a realidade que nem todos querem ver/reconhecer
Maria Rosa Afonso :
O Mundo caminha, desde algum tempo a esta parte, para trás, é um processo regressivo que nos conduz inevitavelmente à perca de valores humanos e também éticos, coisas que considerávamos eternas!
António Emídio