O arrolamento dos bens da Igreja de Quadrazais está registado num documento dactilografado que se encontra na Biblioteca Central do Ministério das Finanças. Os documentos foram transcritos tal como foram escritos inclusive com os erros que contêm. (Parte 2 de 2.)

AUTO DE ARROLAMENTO
(texto dactilografado)
Aos vinte oito dias do mês de Julho de mil novecentos e quarenta e cinco, nesta Secção de Finanças do concelho do Sabugal, compareceram perante mim, Antero Ferreira Ribeiro, funcionário indicado para servir de escrivão neste auto, e as testemunhas idóneas adiante nomeadas, os Senhores Chefe da Secção de Finanças do mesmo concelho, Manuel Ferreira de Pina, aspirante servindo de Chefe da Secção, e o pároco da freguesia de Quadrazais, como informador, na qualidade de Representante da Fabrica da Igreja, a fim de, nos termos do artigo quarenta e seis do decreto-lei numero trinta mil seiscentos e quinze, de vinte cinco de Julho de mil novecentos e quarenta, se proceder ao arrolamento requerido à Direcção-Geral da Fazenda Publica dos seguintes bens:
1.0 – Um chão secadal, sito na Rua da Fontinha, confrontando…..(este item foi riscado)
2.0 – Dois castanheiros, no sítio da Cova, no prédio de Gregório Afonso Bicho, onde o mesmo, Gregório Afonso Bicho, tem também cinco, José Gonçalves Freire tem um e Manuel Esteves Bagulho tem três, estão inscritos na matriz predial sob o nº 264.
3.0 – Um lameiro, no sítio dos Plomes, confrontando com D. Rita de Jesus Gomes Freire, viúva, e com Constantino Francisco, inscrito na matriz predial sob o nº 299.
4.0 – Um chão regadio, no sítio da Barroca, confrontando com Luiza Nabais Borrega, viúva, e Maria Nabais do Carlos, inscrito na matriz predial sob o nº 365.
5.0 – Uma tapada com castanheiros, no sítio do Albardeiro, confrontando com Manuel José Rodrigues e Maria Martins Baluca, inscrito na matriz predial sob o nº 508.
6.0 – Uma tapada com castanheiros, no sítio das Eiras, confrontando com Rita Gomes Freire, viúva, e Manuel Francisco Torres, inscrito na matriz predial sob o nº 545.
7.0 – Uma sorte de terra centieira, no sítio do Mial do Chão, confrontando com Manuel Esteves Charrica, Matias Esteves Cipriano e com o caminho publico, inscrito na matriz sob o nº 641.
8.0 – Um chão regadio, no sítio da Veiga, confrontando com herdeiros de José João Côxo e Manuel Nabais Salada Senior, inscrito na matriz predial sob o nº 697.
9.0 – foi riscado.
10.0 – foi riscado.
11.0 – Uma sorte no sítio da Escaleira, inscrito na matriz predial sob o nº 1430.
12.0 – foi riscado
13.0 – Uma terra centieira, no sítio do Ribeiro Engodinho, confrontando com Manuel Moleirinha e José Martins do Paulo, do Ozendo, inscrito na matriz predial sob o nº 6432.
14.0 – Um lameiro e pertenças, no sítio da lagôa, na freguesia de Vila Boa, deste concelho, confrontando com Joaquim Gonçalves Borrêgo, de Quadrazais e Alexandre Pereira Ramos, inscrito na matriz sob o nº 414.
15.0 – Uma sorte de chão regadio no sítio do Castanheirinho, confrontando com António Manuel de Moura e Manuel Marques Varandas, inscrito na matriz sob o nº 432.
16.0 – Uma sorte de chão regadio, no sítio da Telhada, com dois castanheiros, confrontando com caminho publico, Antonio José Esteves Bicheiro e José Campos Chibo, inscrito na matriz sob o nº 147.
17.0 – Um souto de castanheiros (2 ou 3) no sítio da Pardiz, inscrito na matriz sob o nº 2.218.
18.0 – Uma terra secadal, no sítio da Mariça ou Murça, limite de Quadrazais, deixada em testamento, em 26 de Março de 1926, á Confraria do Santíssimo de Quadrazais e administrada pela Junta de Freguesia desde essa data, confrontando do norte e poente com Anacleto dos Reis Novais, sul e nascente com o caminho publico.
19.0 – Uma terra regadia e lameiro, no sítio do Chão do Porto, confrontando do norte com caminho publico, nascente com Antonio Fernandes do Cardeal e poente com Domingos Afonso Carriço.
20.0 – Um lameiro, no sítio do Ral, limite da Freguesia de Vila Boa, legado á Igreja em testamento, assim como o anterior, em nome da Junta de Freguesia de Quadrazais, com a condição dos seus frutos reverterem a favor da Igreja do Ozendo.
21.0 – Dois fornos, sitos no dito povo do Ozendo, freguesia de Quadrazais, que dizem serem da Igreja. Um deles está em ruinas, sem chaminé e nem trabalha, é hoje metade dos herdeiros do Padre João Bernardo e a outra metade da Igreja, que a comprou a João Gonçalves Martins (professor) e Joaquim Salada. O outro é hoje da Igreja, que comprou metade a Francisco Manuel Martins (barbeiro), tendo-lhe a outra metade sido doada pelo Padre João Bernardo, do mesmo lugar do Ozendo.
Nestes termos deu-se o presente arrolamento por efectuado, sem mais formalidades.
Fôram testemunhas presentes, João Ferreira de Matos, solteiro, maior, funcionário publico, e José Vinhas, solteiro, maior, praticante nesta Secção de Finanças, ambos residentes nesta Vila do Sabugal, que também assinam este auto com os referidos, aspirante servindo de Chefe da Secção de Finanças e pároco da freguesia, depois de lhes ter sido lido em voz alta, na presença simultânea de todos, por mim, (assinatura de Antero Ferreira Ribeiro) que o dactilografei e assino.
(Seguem-se as assinaturas de:)
Manuel Ferreira de Pina, Padre Manuel Joaquim Correia, João Ferreira de Matos, José Vinhas e Antero Fernandes Ribeiro.
Anotações feitas por mim a estes documentos
Este documento fala da Igreja de Nossa Senhora da Ascenção, quando deve ser da Assunção, esta sim o orago de Quadrazais.
Não é mencionada, mas a capela do Espírito Santo, sita no lugar com o mesmo nome (embora digam Esprito Santo), também chamado sítio da Lameira, tinha, e ainda tem, uma alpendrada.
Em 1912 era pároco de Quadrazais o padre João Maria Martins, que ali permaneceu pouco tempo.
O relógio de que aqui se fala foi substituído por um moderno, electrónico, sito numa casinha edificada em frente da casinha das Almas, encostada à torre do sino.
O candeeiro com velas foi substituído por um candeeiro com lâmpadas eléctricas.
Neste documento fala-se da imagem de Nossa Senhora da Assunção (e não Ascenção), da Senhora do Rosário, do Menino Jesus, de Santa Luzia, da Senhora dos Remédios, da Senhora do Livramento e da Senhora da Conceição.
Hoje apenas existem as imagens de Nossa Senhora da Assunção -o orago, de Santa Luzia, do Menino Jesus, da Senhora do Rosário e da Senhora da Conceição. As imagens da Senhora do Livramento e da Senhora dos Remédios, por estarem muito danificadas por serem de madeira, foram retiradas da igreja por ordem do padre Manuel Joaquim Correia, e colocadas na capela do Santo Cristo e Santo António. Há uns anos, o padre Carlos Nabais Martins, de Santo Estêvão, último padre residente, mandou repará-las, mas continuaram nas ditas capelas. Hoje a igreja encontra-se cheia de imagens: Senhora da Assunção, São José, Sagrado Coração de Jesus, Santa Luzia, Menino Jesus, Senhora do Rosário, São João Baptista, São João Evangelista e Senhora da Conceição.
Este documento não fala do altar das Almas, em talha barroca, com uma estampa do arcanjo São Miguel. Entretanto esta estampa foi retirada e, no altar das Almas, colocaram a imagem de Nossa Senhora de Fátima e dos pastorinhos. Às Eiras foi construído um nicho para abrigar a imagem de Nossa Senhora de Fátima dos emigrantes, cuja festa é no dia 12 de Agosto. Também não fala da casinha das Almas, onde guardam as alenternas (lanternas), opas e outras alfaias, nem no Sobradinho.
As capelas continuam a ser as mesmas. De anotar que não fala da sineta da capela de Santa Eufêmia (como pronunciam o nome de Santa Eufémia), hoje substituída por um pequeno sino.
São Jãens, ou São Jães, é a síncope de São Genésio.
No arrolamento dos bens móveis consta uma lâmpada de vidro pendente do arco cimeiro. Tratava-se de um candelabro com vários castiçais para velas, que descia e subia puxado por uma corda atada junto do púlpito. Foi substituído há anos por um candelabro de cristal com várias lâmpadas eléctricas, fixo, sem a corda. Quando se fala de quatro lâmpadas de metal amarelo, teremos de ler quatro castiçais para velas.
Fala-se num lameiro no sítio dos Plomes. É a pronúncia da palavra Pelomes, cuja origem eu expliquei no IV volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais», das págs. 75 à 87.
Fala-se no sítio da Mariça ou Murça. Deve ser engano de quem escreveu. Deve tratar-se de Maussa, isto é, Má Ursa, conforme também expliquei no citado meu livro.
Fala-se de terrenos pertencentes à Igreja de Quadrazais sitos em Vila Boa. No 1.º volume da minha citada obra, pág. 60, expliquei quais eram os rendimentos da Igreja de Quadrazais. De passal (rendimento das propriedades) eram 8.000 réis. Possuía propriedades em Quadrazais, Sabugal, Nave e Vila Boa. Era a igreja mais rica do concelho. Por isso, era pretendida por muitos eclesiásticos.
Fala-se que a Igreja era proprietária de dois castanheiros, no sítio da Cova, num terreno de Gregório Afonso Bicho. Era frequente haver vários donos de castanheiros implantados numa propriedade de terceiro. Como os castanheiros eram árvores apreciadas pelo seu rendimento e a castanha ser a base da alimentação do quadrazenho, quando das partilhas de heranças, os castanheiros eram atribuídos a vários herdeiros. E assim se perpetuavam na posse de vários.
(Final da parte 2 de 2).
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