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Página Principal  /  Aldeia do Bispo • Cultura • Opinião • Pintura • Vivências a Cor  /  Memórias da nossa aldeia
20 Fevereiro 2018

Memórias da nossa aldeia

Por Alcínio Vicente
Alcínio Vicente
Aldeia do Bispo, Cultura, Opinião, Pintura, Vivências a Cor alcinio vicente, aldeia, puzzle de imagens 3 Comentários

Nota prévia: este puzzle de imagens sobre a minha aldeia é uma pequena mostra que visa retratar duma forma subjectiva sem atender aos gostos ou estilo de ninguém senão o meu. Tem por fim fazer um repositório do mundo passado e irrepetível…

Alcínio – Puzzle de imagens
Alcínio – Puzzle de imagens

Venho dos tempos de antanho remotos e soturnos.

Duma aldeia cercada pelas serras das Mesas, Xalma e uma barreira de montanhas que se levantam para lá da fronteira e um mar verde de arvoredo e com as outras aldeias por perto.

Prisioneiro neste abraço insidioso que a natureza urdiu.

Houve tempos de escravidão onde os dias de labor começavam e acabavam com a luz solar ou da candeia.

Muitas vezes prolongavam-se pela noite fora na procura dum suplemento para o sustento da família.

Caminhando como sombras no arvoredo ou veredas desusadas com carrego às costas, levavam ou traziam o que faltava no outro lado da fronteira.

Eram tempos da miséria, a terra era ouro e as leiras de cada um, limitadas por paredes graníticas.

Cada um sabia quantas árvores possuía, os animais eram como outros elementos de família e conheciam os seus donos as suas pastagens e a sua casa sem se perderem.

Os filhos varões partilhavam com eles muitas vezes os seus catres, pelo menos para dormir.

As máquinas e ferramentas eram a enxada, a machada, o arado, o carro de bois, o tractor.

Não existiam nem silvados nem leiras por cultivar e comia-se o que a casa dava, batata, feijão, pão centeio, e o frigorífico era a arca salgadeira, nem se conhecia o colesterol, nem ácido úrico, nem obesidade.

E todos sabiam o que era seu e o que pertencia a outro.

E os pobres que vinham pedir às portas, a esmola que se resumia muitas vezes duas batatas em troca de um Padre Nosso, pelas almas de quem já lá tinham.

Todos sabiam as «posses» do outro e emprestava-se dinheiro ou outros bens em troca da palavra dada.

Alguns frequentaram a escola, a minha era uma espécie de ringue de boxe mas só batia o professor, na parede da escola um crucifixo acolitado pelos retratos de Salazar e Carmona.

Era uma vida espartana de sementeira, de rega, de ceifa, de malha, de noites frias ou quentes, de invernias, com ribeiras a transvazar por cima das pontes ou pontões e de verões exangues pela seca.

Mas um dia os ventos da história sopraram noutro sentido, trazendo a notícia que lá longe, corria o leite e o mel e foi a debandada à procura do sonho de liberdade.

Não há eufemismos eivados de lirismo ou romantismo que alterem esta cruel realidade da lenta agonia das nossas aldeias.

E esta foi uma punhalada fatal para os destinos desta como o de todas as aldeias vizinhas, para onde só regressam alguns poucos já no declínio da vida.

O mundo é feito de mudança e um dia virá em que as nossas aldeias serão paradisíacas, onde reinará o sossego e a harmonia com a natureza.

Aqui eu conheci os fundamentos e a escola primordial da vida, e compreendi que o rigor a disciplina a vontade são as armas que me norteiam e cuja vivência procuro testemunhar com pinceladas rudes como a sua aprendizagem e os seus conteúdos.

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«Vivências a Cor», expressão de Alcínio Vicente

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Alcínio Vicente
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3 Comments

  1. Avatar Nelson Farias Responder a Nelson
    Quarta-feira, 21 Fevereiro, 2018 às 14:36

    Felizmente para quem gosta destas coisas relacionadas com arte, a pintura do Alcinio, tem na sua base para além do ADN, muito estudo e trabalho. A sua facilidade, imaginação e simplicidade a escrever, essa deve-se totalmente ao ADN

  2. Avatar JFernandes Responder a JFernandes
    Quarta-feira, 21 Fevereiro, 2018 às 0:49

    Simplesmente LINDO….

  3. Avatar José R. Pires Manso Responder a José
    Terça-feira, 20 Fevereiro, 2018 às 19:22

    Um verdadeiro artista tanto na pintura, já sobejamente reconhecida, como na imaginação e e escrita… Mais palavras para quê? é um artista português, nascido em Aldeia do Bispo, Sabugal, nosso conterrâneo e amigo, que dá pelo nome de Alcínio Vicente, ou simplesmente Alcínio…

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