O Raul, filho da Ti Sansão do Tonhinho, que tinha vacas a meias com o António Mocho, à falta de quem andava normalmente com as vacas, vai dar a jeira ao Lourenço Meneiro, sobrinho da Telvina Meneira, que morreu ou mataram em terras de Espanha, onde vivia havia muitos anos com a ocupação de pastor.

Estranhando ver que se limpava tudo na casa da Meneira, a Creuza, que passava por ali, dirige-se à mulher do Rambóia que estava nas escaleiras do Lourenço a fragar os talheres, contratada nesse dia:
– Como está a fragar tudo?!
Responde-lhe a Gijê Retinhê:
– Tenho cá uma jeirê e é com o filho da ti Sansão, que é mais senhorito!
A quadrazenha, quando contratava alguém por dia a quem teria de dar almoço, como era o caso da costureira ou das jeiras, esmerava-se em receber bem os contratados para que não fossem contar a terceiros que haviam sido mal recebidos. E quando o contratado era senhorito, isto é, menos sapatranca, com melhores maneiras, o esmero era ainda maior, a ponto de esfregarem todos os talheres e a própria casa, ainda que tivessem de carregar o burro com andilhês para transportar os cântaros de água necessários e ajoelhar-se na tacoilê. Este acto era normal em vésperas da festa de Santa Eufêmia.
Notas:
Andilhas – dispositivo em madeira ou ferro onde colocavam os cântaros no dorso do animal.
Fragar – esfregar.
Gijê – Luísa.
Jeira – trabalho de um dia com vacas.
Sansão – Ascensão.
Sapatranca – indivíduo sem maneiras.
Tacoila – espécie de banco sem pernas.
Telvina – Etelvina.
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«Histórias de quadrazenhos», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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