Chamaram-lhe «Torre do Cruzeiro do Império» e «Altar Mor da Pátria». Disseram mesmo que marcava o ponto «onde a Terra acaba e o Céu começa».
No início do século XIX erigiu-se no topo da Serra da Estrela um monumento em pedra que completava os 2.000 metros da cota máxima do ponto mais alto de Portugal Continental.
Em 1940 foi instalada no topo do monumento a Cruz Processional de D. Sancho I, também designada por Cruzeiro. Já em 1949 foi edificada a chamada «Torre do Cume», na forma que hoje se mantém.
O cruzeiro e a nova torre foram construídos em plena ditadura salazarista, quando os discursos patrioteiros e divinais serviam a propaganda de um regime que isolava Portugal do mundo.
Tão alto a torre está, disseram, que dali os olhos abarcam Portugal inteiro em beatitude contemplativa, podendo o peregrino devotamente pôr a alma de joelhos e conversar com Deus.
A Torre oferecia de facto um panorama inédito, de arte e de sortilégio únicos no País, pela policromia e vastidão dos horizontes. Essa beleza ímpar avistada do alto da Serra da Estrela levava mais uma vez os propagandistas a afirmarem que aquele pedaço de chão sagrado significava a sublime espiritualidade do Criador.
Para os propagandistas do funesto Salazar, até os estrangeiros que ali aportavam se viam avassalados a ponto de sentirem pena de não haverem nascido portugueses.
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«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
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