Andei uns dias a pensar se queria ou não escrever isto. Hoje, passado algum tempo e, moderado o ímpeto inicial de protesto, julguei obtida serenidade bastante para falar sobre a inconcebível ocorrência. O caso não foi diretamente comigo mas implicou-me de certa forma.
No passado dia trinta e um de agosto, acompanhei, à estação ferroviária de Torres Vedras, um casal amigo de nacionalidade inglesa que, de passagem para o Algarve, veio visitar-me e à minha família no decurso de férias, na praia de Santa Cruz.
Após dois dias de amistosa convivência, impunha-se o adeus. Indagados os horários para prossecução de viagem e conhecida a hora de embarque, às treze horas e vinte e seis minutos, encaminhámo-nos atempadamente para a estação não fosse algum atraso tecê-las. Chegámos a Torres Vedras pouco passava de meio dia o que deu para aparcar o carro, entrar num bar, tomar uma bebida fresca e seguir, a pé, para a gare. Fomos cavaqueando, alegando, dialogando. A estadia dos nossos amigos havia sido tão célere que ficava muito por tagarelar.
Até aqui tudo decorria ao abrigo da mais perfeita normalidade. O inacreditável viria a seguir.
O tempo ia correndo e, olhando o relógio, verificámos que o trem já estava com meia hora de atraso. Julgámos, por isso, conveniente procurar o gabinete do chefe da estação tentando indagar o motivo da tardança. Foi-nos replicado que não havia conhecimento da razão de atraso pelo que se impunha telefonar antes de adiantar qualquer informação. Quinze minutos mais tarde foi-nos comunicado que o comboio tinha tido uma avaria e não seria possível, por tal motivo, quantificar o tempo de demora. Deveríamos fazer o favor de esperar.
E esperámos… mas não poderia ser eternamente! Intentando saber mais novidades apenas nos era recomendada nova espera até que um altifalante fanhoso proclamou:
– O comboio procedente de Lisboa com destino a Caldas da Rainha foi suprimido. O próximo será às quinze horas e vinte e cinco minutos.
Suprimido?! Surreal!! O casal inglês precisou de algum tempo para assimilar a veracidade do que vinha acontecendo.
Tentando sair do que me parecia ser um sonho procurei uma funcionária. Tive o cuidado de lhe explicar que não tinha nada contra ela mas que sentia uma necessidade intrínseca de reclamar ou, melhor, de relatar o sucedido. Respondeu-me que não, que não o poderia fazer.
Embora compreendesse a minha indignação, ela já estava fora de serviço e, por tal razão, não poderia facultar-me o livro de reclamações.
Era difícil gerir tanta surpresa!
Entretanto já passava muito das duas e ainda não tínhamos almoçado. Atravessámos a linha e encontrámos um tasco onde acabámos por saborear um pequeno bafejo de sorte. Os secretos de porco preto eram óptimos, a senhora serviu-nos com bons modos e o preço foi simpático. É que, para dizer a verdade, já desconfiávamos da própria sombra!
Confortados com o repasto, regressámos à gare na esperança de que, algum dia algum comboio chegasse a Torres Vedras. E chegou! Já passava das quatro e meia da tarde.
Num forte abraço de despedida o Rex, o meu amigo inglês, sussurrou-me ao ouvido:
– In Portugal, I’ll never take a train again. I’ll rather go on a bike.
:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
:: ::
O Comboio em Portugal é como na Espanha:-” Lhega quando lhega !”. é uma falta de respeito pelos utentes! nestas condições como é que alguém de bom senso tem vontade de fazer viagens utilizando este meio de transporte? se o comboio avariou e não se sabe a hora da reparação não se contrata logo um autocarro para levar as pessoas ao seu destino? o problema é que ninguém é responsabilizado: A propósito disto vou tentar relatar isto ao presidente da C.P. que até é meu amigo; pode ser que faça alguma coisa!