Era da família dos Rodrigues Bicheiro. Tinha emigrado para a Argentina pelos anos 20/30 ou já nos anos 40 do século passado com mais uns dezanove, a avaliar pela fotografia tirada em solo argentino e que publiquei no primeiro volume da minha obra «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais», ou talvez mais, já que na fotografia não identifico o irmão do meu avô Braga, o João Lhalhão e o Simão Ferrador, entre outros. Na fotografia, que aqui tento reproduzir, o Nano aparece a tocar concertina. A vida não lhe deve ter corrido bem, como a muitos outros, e ei-lo de novo na terra.
Não me lembro de o ver no contrabando nem a cavar a terra. Só me lembro que, quando passávamos junto da porta dele ao Eiró, onde chegou a ter uma taberna, e onde, por vezes, tocava um pouco concertina, nos agarrava e:
– Vamos tirar o gôgo!
Prendia-nos pelo pescoço e espetava-nos a unha detrás de uma orelha, que nos fazia berrar a bom berrar. E lá nos abandonava depois de imaginar que já nos havia tirado o inchaço próprio das galinhas, a que chamam gôgo.
Evitávamo-lo como à peste.
Mas, hoje, já desaparecido o Nano, lembro-me sempre dele e do gôgo cada vez que passo no Eiró, à porta da que fora sua casa, onde hoje vive, embora não com carácter de permanência, um dos filhos.
E, se acaso se lembra de tirar o gôgo lá onde agora deve morar a algum dos companheiros de morada, como vão estes reagir?! Bulhas no outro mundo não deve haver mas gente crescida ou foge dele ou lhe apeiam as mãos para o impedirem de tais práticas. O pior é se se por perto dele está alguma criança de Quadrazais que sentiu na pele a experiência! Certamente dirá:
– O quê? Nem aqui nos livramos dele?!
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