Todos conhecem a oração cristã designada de Pai-nosso, ou Padre-nosso. Porém circulam várias versões imitativas conquanto seja rezada por estudantes, jornalistas, músicos, actores e, até, bêbados.
Padre-nosso dos jornalistas
Santa pachorra que estais na nossa cabeça, purificadas sejam as tuas ideias. Venham a nós muita massaroca para nos dar alento. Seja feita a vossa vontade, no nosso retiro ou na nossa redacção. Este pão nosso de cada dia nos dai sempre. Perdoai-nos leitores os nossos erros, como nós te perdoamos leres as nossas coisas. Não nos deixeis cair em falência e livrai-nos dos cortes da censura. Amen.
Padre-nosso dos músicos
Padre nosso que organizais festas, santificado e bem pago seja o nosso trabalho, venham a nós os vossos convites e o respectivo arame. Seja feita a vossa vontade, tanto na igreja como no coreto, e a remuneração de cada festa nos dai logo. Perdoai-nos alguma nota desafinada, ou algum toque falso, assim como nós perdoamos pedirdes abatimento no preço. Não nos deixeis perder a embocadura nem a firmeza na execução, livrai-nos dos ensaios, festas gratuitas e alvoradas. Amen.
Padre-nosso dos estudantes
Sebenta nossa que estais no Inferno, maldito seja o vosso nome, longe de nós o vosso reino, caiam por terra as vossas doutrinas, assim na Universidade como no Inferno. As doze páginas do costume não nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas dívidas à Sebentária, assim como nós perdoamos aos nossos credores. Não nos deixeis dar estenderetes, mas livrai-nos do exame. Amen.
Padre-nosso dos actores
Empresário nosso que estais no escritório, benditas sejam as vossas massas. Venham a nós muitos contratos, para nos dar trabalho durante o ano. Seja feita a nossa vontade e não nos ponhas na rua, que a gente não quer, porque o teatro da vida e ao ar livre e faz mal às nossas gargantas. Perdoai-nos quando nos enganamos na peça e não nos multeis pela tabela. Livrai-nos dos benefícios e festas de caridade, não nos pregueis o calote, livrai-nos das companhias falidas. Evita que a gente estenda a mão a pedir esmola e dai-nos sempre muito cordel para comprar comer na mercearia e no mercado. Amen.
Padre-nosso dos bêbados
Santa Uva que estais na parreira, purificada sejas sempre sem água. Venha a nós o teu líquido, para ser bebido à nossa vontade, assim na taberna como em casa, três quartilhos a cada hora nos dias de hoje. Perdoai-nos quando bebemos menos, assim como nós perdoamos o mal que às vezes nos fazes. Não nos deixeis cair no meio da rua, e livrai-nos das mãos dos polícias. Amen.
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«Histórias de Almanaque», por Paulo Leitão Batista
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