Franklim Costa Braga publica neste espaço, dedicado à sua terra natal, galramentos entre códrazenhos (conversas entre quadrazenhos), textos em Gíria Quadrazenha. Depois da publicação de diálogos entre conterrâneos, expõe agora algumas histórias em gíria da aldeia de Quadrazais.

O alento im Códrazais hõinje
– Ma cousina, maquinemos pó marché! ‘Stamos de vacanças. No q’runho penhar aqui dentro do coime. Vá, maquinemos a passear!
– Laisse m’arranjar prumeiro.
– No demores qu’a gente é mutê nas loijes. Q’ando chegarmos já no há mutê coijê que p’cisemos.
– Ne t’en fais pas. Havunhe de chegar pa tótios.
– Mois vai trer la voiture da garage.
– Atão, allons.
– Que vais acheter, Amélie?
– Mois, unos fromages e chifrês pa levarsir p’á França. E toienes?
– Já te q’runhes maquinar p’á França? Mois indê maquino unos lúzios p’ó Algarve purmeiro. Apoi é que maquino p’à França. Por isso, hoinje vou marcar poquê coijê.
– Logo atisquei. Vá lá por que no tunhiês pressa.
– Maquinê devagar. No q’runho acabar aujord’hui.
– És unê medrosa. Até parece que no sabunhes conduire!
– No sabunho lá muto baro. Mas penso toujours que podunho tunhir uno accident.
– Pois mois tunho pressa porque tunho de faire les valises e indê q’runhiê ir ó rio tomar un banho. Il fait chaud, hein!
– C’est vrai! Mas penha-se baril à la maison, à sombra. No Algarve é qu’é baril. Ânsia quentinhê!
– No sabunho s’il vaut la peine tunhir uno coime no Algarve. Pa passarsir une semaine, podunho ir p’ó hotel. Penha mai bon marché.
– Naquisso tunhes certo. Já ‘stou repentie d’avoir acheté une maison là-bas. Só lá vou une semaine ó donas por année. E pagumpo taxes, oh lá-lá!
– Por que no a vandunhes?
– Tunho de pensarsir naquisso. Como vou fazunhir?
– Metes uno annonce no jornal ó dás o coime a une agence qu’o vandunha.
– É o que vou fazunhir. Assim penho mai livre pa passarsir vacanças donde q’runho.
– O alento ‘stá caro. Já no podunhimos esbanjar galhal. Os reloijos da farturê já passaram. Já no se ganha monte baro.
– E se perdes o emploi, já no é terno arranjar atro. A França já foi baril. Aujourd’hui a coijê ‘stá mal por tútio vento. A crise tamém chegarsiu à França.
– Mois penho muto arrepentie d’acheter terrunhos cá e de tunhir gasto monte ganhal no coime. P’a quê? Os gilfos já no vunhem p’a cá alentar.
– Os de moienes já acais no punhem cá os penantes. P’a moienes uno descanso, uno dormente e unê cozedora bastarsia.
– Poi é, q’runhimos faire alento de abondantes e agora paguemos a facturê. O ganhal que gastarsi na maison valiê mai tunhi-lo posto no banco.
– Oxalá no p’cisemos dele mai tardosa.
– E oxalá os noienos gilfos no tunham de voltarsir pa cá. Indê tunhirão cá maison pa éles.
– Espero que no chegarsirmos a monte. Mas qu’o alento penha interno, lá aquisso penha.
– Baro, pa nois o que tunhimos basta. Desde que no continuemos a gastarsir à tonta, só pa fazunhir atiscar ós atros que sunhimos abondantes,
– Aquêssa maniê já vai passando, qu’o alento já no ‘stá p’aquisso.
– Baro. ‘Stamos a chegarsir. Maquinemos lá acheter o que realmente p’cisamos, sim pensarsir em farroncas. Cada uno que merque o que quejer, q’a moienes monte se me darse. Mois suque e chinga o que q’runho, mon voisin que suca e chingue o que q’runhê. Cada uno gastarse o que q’runhê sim pensarsir qu’é mai abondante ó mai minguante qu’ó atro.
Tradução para Português corrente
A vida em Quadrazais hoje
– Prima, vamos ao mercado! Estamos de férias. Não quero ficar aqui dentro de casa. Vá, vamos a passear!
– Deixa-me arranjar primeiro.
– Não demores que a gente é muita nas lojas. Quando chegarmos já não há muita coisa que precisemos.
– Não te preocupes. Há-de chegar para todos.
– Eu vou tirar o carro da garagem.
– Então, vamos.
– Que vais comprar, Amélia?
– Eu, uns queijos e chouriços para levar para França. E tu?
– Já queres partir para França? Eu ainda vou uns dias para o Algarve primeiro. Depois é que vou para França. Por isso, hoje vou comprar pouca coisa.
– Logo vi. Vá lá porque não tinhas pressa.
– Vai devagar. Não quero morrer hoje.
– És uma medrosa. Até parece que não sabes conduzir!
– Não sei lá muito bem. Mas penso sempre que posso ter um acidente.
– Pois eu tenho pressa porque tenho de fazer as malas e ainda queria ir ao rio tomar um banho. Está calor, hein!
– É verdade! Mas está-se bem em casa, à sombra. No Algarve é que é bom. Água quentinha!
– Não sei se vale a pena ter uma casa no Algarve. Para passar uma semana, posso ir para o hotel. Fica mais barato.
– Nisso tens razão. Já estou arrependida de ter lá comprado uma casa. Só lá vou uma semana ou duas por ano. E pago impostos, oh lá lá!
– Por que não a vendes?
– Tenho de pensar nisso. Como vou fazer?
– Pões um anúncio no jornal ou dás a casa a uma agência que a venda.
– É o que vou fazer. Assim fico mais livre para passar férias onde quero.
– A vida está cara. Já não podemos esbanjar dinheiro. Os tempos da fartura já passaram. Já não se ganha muito bem.
– E se perdes o emprego, já não é fácil arranjar outro. A França já foi boa. Hoje a coisa está mal por todo o lado. A crise também chegou a França.
– Eu estou muito arrependida de comprar terrenos cá e de ter gasto tanto dinheiro na casa. Para quê? Os filhos já não vêm para cá viver.
– Os meus já quase não põem cá os pés. Para mim, uma sala, um quarto e uma cozinha bastava.
– Pois é, quisemos fazer vida de ricos e agora pagamos a factura. O dinheiro que gastei na casa valia mais tê-lo posto no banco.
– Oxalá não precisemos dele mais tarde.
– E oxalá os nossos filhos não tenham de voltar para cá. Ainda terão cá casa para eles.
– Espero que não cheguemos a tanto. Mas que a vida está difícil, lá isso está.
– Bem, para nós o que temos basta. Desde que não continuemos a gastar à tonta, só para fazer ver aos outros que somos ricos.
– Essa mania já vai passando. Que a vida já não está para isso.
– Bem. Estamos a chegar. Vamos lá comprar o que realmente precisamos, sem pensar em vaidades. Cada um que compre o que quiser, que a mim tanto se me dá. Eu como e bebo o que quero, o meu vizinho que coma e beba o que queira. Cada um gaste o que quiser sem pensar que é mais rico ou mais pobre que o outro.
Leave a Reply