Em Quadrazais, como em boa parte das aldeias, as pessoas são conhecidas por alcunhas e poucos conhecem os seus verdadeiros nomes. Só quando se trata de alcunhas ofensivas é que os visados afinam e há que ter cuidado na maneira de se dirigirem a eles, embora entre as demais pessoas continuem a ser mencionados por alcunhas.

Na rua que vai do Fole às Eiras morava o Zé Manel Patacão, cujos pais tinham vivido numa quinta ao Ribeiro da Marrã, o qual veio a casar com a Nunciação Vinhas, filha do ti Manel do Soito. Patacão era alcunha de que ele não se importava que lhe chamassem. A mulher, porém, afinava quando chamavam Patacão ao marido. E um dia meteu-se ao barulho com a Ginê Selada por ter chamado Patacão ao marido.
Passados uns dias, alguém chama da rua:
– Zé Manel! ó Zé Manel!
A Nunciação dirige-se ao marido e diz-lhe:
– Estão-te a chamar!
Responde-lhe o marido:
– Ná, no é pa mim!
Insistem da rua a chamar pelo Zé Manel e o Zé Manel nada, não acode. Até que chamam:
– Patacão, ó Patacão!
– Ah! Agora sim, é pa mim!
– Atão andei ao barulho há dias com a Ginê Selada por te chamar Patacão e agora tu respondes ao chamamento de Patacão?! – diz-lhe a mulher.
– É para aprenderes que não deves andar ao barulho com ninguém por me chamarem Patacão! – respondeu-lhe o marido.
Notas:
Atão – então
Ginê – Virgínia
Ná – não
No – não
Nunciação – Anunciação
Pa – para
Selada – Salada
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