O repetitivo torna-se cansativo. Mas o silêncio é cúmplice. Até ao inicio de 1980, na então C.E.E., os Estados membros eram soberanos, os orçamentos e todas as questões económicas e políticas eram decididas pelos parlamentos eleitos pelos cidadãos. De Gaulle, um conservador, debateu-se energicamente para que Bruxelas não aumentasse os seus poderes. Eram políticos que só aceitavam a Democracia participativa (os órgãos do poder eram os que o povo elegia, não aceitavam ordens vindas de fora). Presentemente as democracias dos países da U.E. são elitistas, oligárquicas, corruptas, e recebem «orientações» de Bruxelas.

Depois de 1980 há uma mudança radical na politica e na economia da U.E. com a chegada do Neoliberalismo, e já alargada a países do Sul e Leste. Este alargamento, tinha, e tem, por finalidade conseguir mão de obra barata para beneficiar os países mais poderosos economicamente, e também conseguirem gente qualificada, Marçal Grilo ao D.N, de 30 de Março de 2017: «Formamos gente de topo e os alemães levam aos 30 engenheiros.»
Foram feitos tratados à margem dos povos europeus não tendo estes nenhuma participação neles, esses tratados substituíram os parlamentos eleitos democraticamente, conseguindo privatizações de empresas e serviços públicos, redução de prestações sociais, o – Laissez faire – mercados sem regras, e um aumento exponencial da corrupção, ou seja, o poder do mais forte e o salve-se quem puder.
Tudo isto trouxe descontentamento. Este descontentamento manifesta-se nas classes médias e populares, nos partidos de Extrema Direita e numa Nova Esquerda que está a surgir. A esquerda clássica, a Social Democracia e o Socialismo Democrático de quase todos os países da U.E. estão com o sistema, por isso a Extrema Direita está mais implantada na Europa, domina a oposição ao sistema e tem grande força eleitoral, embora sendo xenófoba e racista. A Nova Esquerda encontra-se mais nos países do Sul, Portugal com o Bloco de Esquerda, Espanha com Podemos, Itália com M5 S, Syrisa na Grécia (integrou-se no sistema), e Sinn Féin na Irlanda.
O que une estas ideologias tão díspares? A austeridade e perca de soberania dos governos dos respectivos países, o que as separa? A xenofobia e o racismo, há outros pontos. A velha esquerda está desorientada, não toma posições de força, posições radicais, fala nuns reajustes da moeda única e pouco mais, podemos exceptuar Portugal? Penso que sim… Claro que a Nova Esquerda tem uma visão mais democrática, social, humana, ética e cultural de todos estes problemas que afligem a Europa, do que tem a Extrema Direita.
Em Portugal, a corrupção e a crise económica originaram um «divórcio» entre os cidadãos e a classe politica, mas não existe um verdadeiro e poderoso partido de Extrema Direita, porque ela está diluída nos partidos de direita PSD e CDS, e na Espanha encontra-se dentro do Partido Popular, é natural que assim seja, Portugal e Espanha foram os dois países da Europa Ocidental onde os extremismos de direita prevaleceram até meados dos anos 70 do século passado, ainda estão na memória de milhões de portugueses e espanhóis, seria impensável nestes dois países uma Extrema Direita tão forte como em França ou na Holanda.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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