Cada um gosta mais da sua terra do que de qualquer outra. Legitimamente. Mas eu acho que o Casteleiro tinha e tem coisas do arco da velha que qualquer um se orgulharia de poder dizer da sua aldeia também. Hoje deixo aqui mais algumas dessas minhas boas razões em toda a minha vida presentes na minha conversa com amigos… Leia e conclua por si.
Recordando coisas que já em tempos divulguei, agora com pequenos re-arranjos, tenho de avisar que esta minha paixão pela aldeia é doentia de todo…
Os sons que me ficaram até hoje
Estas cegonhas apareciam e era um divertimento quando elas batiam a cartchaneta no cima da torre – é que esse som atraía a nossa atenção onde quer que estivéssemos: em casa, na escola ou na ribeira…
Há ruídos, há barulhos e há sons. Hoje falo aqui mais dos sons: os que me são ou eram muito agradáveis – ou seja: os que me apraz recordar hoje aqui para si.
Dou apenas uns exemplos para o leitor perceber do que falo:
– o dlão-dlão do chocalho das juntas de vacas que havia (não eram muitas),
– o dlim-dlim dos chocalhos e campainhas dos poucos rebanhos do meu tempo,
– o dlão-balalão, dlão-balalão do sino da igreja a chamar para a missa ou para o terço…
– O toque-toque das ferraduras das burras na calçada da Rua Direita,
– o ladrar permanente dos cães de guarda das casas,
– o som da concertina dos bailes ou
– o som da música da Bendada nas alturas de festa.
Mas há mais:
– o gri-gri dos grilos tardes inteiras, sem descanso,
– o galo e as galinhas a cantar sem fim, elas porque puseram o ovo, ele para dizer que é ali o Rei e Senhor,
– o mé-mé das cabras e das ovelhas – que engraçado quando os rebanhos que havia (e não eram muitos) atravessavam a aldeia e se passeavam pelas ruas sem rebuço…
Os cheiros da aldeia da minha infância
O cheiro, na aldeia – em qualquer aldeia de Portugal, tenho a certeza – naqueles anos 50, é um elemento definidor de ambientes e de vivências. E marcam para toda a vida.
Há cheiros bons, inesquecivelmente bons. Por exemplo: o cheiro da tarimba, o bafo das vacas, o cheirinho da «abob’rais».
Outro cheiro bom: o dos lençóis de linho que ao entrar na cama eram frios como gelo, mas, passados cinco minutos… «Hummmm!», que bom… E que cheiro! Não há cheiro nenhum que possa apagar estas reminiscências da nossa infância.
Uma aldeia bem colorida e agradável
Todas as cores por todo o lado… Alguns exemplos:
– o verde dos campos húmidos e
– o amarelo dos solos secos da Primavera/Verão,
– o violeta dos rosmaninhos,
– o branco de algumas poucas casas e
– o cinzento da maioria das habitações,
– a faixa preta ou cinza escuro do tapete de alcatrão da estrada;
– as flores do campo: azuis, amarelas, rosa.
– O verde especial da folhagem das oliveiras,
– o próprio arco-íris em dias de chuvinha,
– o sol fraquinho de certas tardes de primavera.
– O branco das cegonhas no seu ninho castanho-escuro na torre da igreja ou
– o amarelo das maias das giestas (jestas) no tempo delas.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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Que ternura de lembranças de antanho!… Também eu as guardo assim no meu viver de hoje, como se ainda existissem!…