A par da recordação de pessoas e de histórias de outros tempos, uma recordação de saudade: a neve na minha aldeia. Esta semana repetiu-se esse cenário para mim mítico…

1. Neve mas que saudade
Mas alguém resiste a uma imagem destas? Agradeço aos meus conterrâneos que quiseram fotografar e mostrar-nos. Impossível não me lembrar daqueles tempos dos anos 50 em que quando íamos para a escola ou para a casa dos familiares a neve abundava nas ruas.
Que saudade, meus caros. Quem não as sente, não é filho de boa gente!!!
2. Personalidades da aldeia
Lembro-me mal do Dr. de Santo Amaro. Era uma personalidade. Tinha várias famas nada recomendáveis e muita gente o criticava.
Mas também tinha histórias do diabo, como aquela de ter ido de carro em 1906 ou 1907 até onde começou a ouvir falar uma língua que não entendia. Aí, assustou-se, dizia ele, voltou para trás porque pensou: «Aqui me ladram, além me mordem…»
Lembro-me muito bem da Dona Maria do Céu. Boa senhora, muito caridosa, muito religiosa, muito ligada à Igreja e a Igreja a ela – pois dali seguia de tudo para as instituições sociais da Guarda à época.
Lembro-me sempre do Sr. Joãozinho (Rosa), gerente e praticamente substituto da dona da Quinta. Era nosso padrinho de casamento.
3. Histórias de gargalhada
Havia na aldeia muitas histórias que me davam mesmo grande gozo ouvir e que ainda hoje recordo com prazer e conto aos amigos e ouvintes sempre que posso. Por exemplo:
– Aquela do ti Zé Ruço que veio da Argentina com roupa de jovem para a mulher já entradota, claro, como ele, e que lhe disse esta: «É para ti, mi mor»… Mas quando chegou agarrou-se a outra, uma vizinha, porque já não se lembrava da mulher…
– Ou aquela do ti Zé Balbino que entrava em casa tipo miúdo, a pregar um susto à mulher e que delicadamente lhe dizia depois: «Mariazinha! Não te sobressaltaste, meu amor?»…
– Ou ainda a história do lobo que apareceu ao ti Álvaro Abreu na descida da Várzea e que levou o homem a gritar, gritar, até que apareceu alguém para o ajudar… ficou uma história de «coragem» para contar para toda a vida…
4. Modos de dizer com piada
Não farto de registar estas coisas. Leia com atenção mais umas quantas:
– Aquilo é um bacalhau sueco.
Leia: é uma tronga e mal comportada, de má resposta e tudo.
Labrusco é sujo. Mas o tempo neste inverno tem estado muitas vezes labrusco, também.
Quando um tipo é atado, meio enrascado e fica atrapalhado sempre que é preciso fazer alguma coisa, diz-se assim:
– Aquilo, em tendo qualquer coisa que fazer, é logo uma serra!…
Moranhêro é esta atmosfera meio húmida e pouco chuvosa que tem estado em alguns destes dias:
– Ó rapaz’s, está cá um moranhêro!
Quando uma comida está muito boa, diz-se que está de estalo ou que está de trás da orelha.
Mas se está um daqueles dias maus a sério, com vento e chuva etc., então a frase mais apropriada é outra mais forte:
– Está cá um dia de capar cães…
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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