Citações curiosas, episódios rocambolescos, notas indiscretas, rábulas, curiosidades, anedotas de ocasião, atitudes peculiares e ditos de espírito – eis as «Histórias de Almanaque». Desta vez deixamos registo de alguns curiosos apontamentos da autoria do actor Carlos Leal.
Senhor de uma escrita muito cuidada e rebuscada, o actor e crítico Carlos Leal (1877-1964) compilou os inúmeros artigos que escreveu em jornais e revistas. Notas, cartas e outros registos de memória, todos os esparsos foram reunidos num livro intitulado «Água Forte».
Dele colhemos algumas notas curiosas para esta colectânea de histórias de almanaque (e outras).
A caricatura de António Ferro
Conta-nos Carlos Leal que um dia António Ferro, o homem da propaganda ao regime de Salazar, deparou-se com uma caricatura sua desenhada por José Marques (Zémarkes), ao que lhe transmitiu mais tarde:
– Gostei da minha caricatura, apesar do casaco estar abotoado ao contrário e eu ter muito vento no bandulho.
Cartas
Conta-nos Carlos Leal que um dia decidiu reagir a reparos que recebeu por escrever muitas cartas:
«Quem não escreve? Os que não sabem, ou são analfas, ou então não querem, e muitas vezes por mândria, corresponder às gentilezas que recebem.»
E Carlos Leal, para justificar melhor o seu fulgor epistolográfico, decidiu revelar o que descobrira um estatístico seu amigo, ao cabo de muitas e laboriosas investigações:
O povo inglês é aquele que mais cartas escreve – cada inglês envia, por ano, em média, 78 cartas. Depois seguem-se os Estados Unidos com 67 cartas, Nova Zelândia (66), Suíça (59), Alemanha (55), Dinamarca (41), Áustria (38), Luxemburgo (34), Holanda (31), Bélgica (29), Suécia (26) e França (26).
Em Portugal, cada habitante apenas escrevia 20 cartas, valor ainda assim similar ao de Itália e Espanha.
Mas para a estatística portuguesa, mais do que Carlos Leal, muito contribuía o conselheiro José Maria de Alpoim, que escrevia, segundo o próprio, 50 cartas por dia.
A idade de Carlos Leal
O poeta e jornalista Rebelo de Bettencourt, escreveu acerca do actor e comediante Carlos Leal:
«Ele é um exemplo vivo de que a alegria dá saúde e mocidade. Tem, deve estar a penetrar nos pórticos dos 60 e é mais rapaz do que muitos velhos de trinta. É mister, por isso, alterar, emendar-lhe a certidão de idade. Carlos Leal não pode nem deve envelhecer. É um compromisso. Até lhe ficava mal ser velho…»
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(por Paulo Leitão Batista)
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