O marido também lhe deu alguns trabalhos. Um dia fomos eu, pai e mãe ao mocho colher as canas do milho. Carregámos a carroça e vínhamos já embora quando, já todos em cima dela, talvez porque a carroça estivesse esconsa, se volta a carroça com o macho.

Eu saltei de um pulo. A mãe consegue cair sem ficar debaixo da carga. O pai, sapo como era, fica debaixo da carga. Resultado: duas costelas partidas. Lá tive eu e minha mãe de recarregar os feixes de milho.
Pobres costelas, que não foi a primeira vez que as partiu!
Doutra vez, andavam a arranjar o telhado do palheiro. Lembrou-se o pai de armar em ajudante e escarrapanchou-se num barrote. Às tantas desequilibrou-se e zàs! cai que nem um sapo. Mais uma vez partiu as costelas.
A pobre da enfermeira é que tinha os trabalhos de lhe apertar ligaduras e tudo o mais.
Isso não foi nada comparado com os trabalhos que com ele teve na sua prolongada doença que o levou.
O pai tinha uma propensão para fazer poços nos chões. Havia um na Costeira, outro no quintal e dois no Soito Concelho de baixo. Um não deu água suficiente e vá de fazer outro ao lado, que depois tapou, não sem que primeiro fizesse a ligação ao outro poço. Quantas bombardas não foram precisas para rebentar com os pedregulhos que subiam no ar, tendo sido avisadas antes as pessoas para que aguardassem a passagem no caminho. A colocação das bombas era tarefa de um malcatenho, o Joaquim Canhoto, e de um das Teixedas, o Francisco Corrécio, treinados em poços, mas nem por isso imunes ao efeito das bombas. Que o diga o Francisco, que ficou sem uns dedos, mau grado a pressa com que subia as escadas que o traziam do fundo do poço.
Quantas manhãs, bem cedo, me levantei, para ir bater na burra para desaguar o poço!
Mais tarde, lá pensou o pai que era melhor tirar a água com um motor. Comprou um e teve de fazer novo poço em baixo, junto do ribeiro, onde a água saía em abundância.
A burra já tinha morrido, se não teria agradecido!
Parece que, por maus conselhos de vedores, não acertava nos veios da água. No quintal, junto à casa, o poço só deu água aos dez metros de fundura, apesar do esforço do Banané e do ti João Preto para a alcançar.
Comprou um cavalo para a tirar. O Coradinha do Sabugal meteu rolamentos na nora para a roda andar melhor. Qual quê! O pobre do cavalo bem se entesava a puxar. Quem aguentava tanto peso dos copos cheios? Batia e tornava a bater no cavalo. Nada!
Foi aí que o motor foi a solução. Comprou um motor eléctrico, que até levava água para casa. Se não funcionava a cem por cento, ia resultando. Mas o pai ainda não estava satisfeito. Os tempos eram outros. Vá de fazer um furo no curral, junto à parede. Não sei quantos metros tem, mas água tem suficiente.
E todos estes trabalhos e gastos para agora estar tudo ao abandono!
O pai, que ele dizia ter sido o melhor aluno na escola do Ozendo, que frequentou, era bom no seu negócio de ambulante no Alentejo. Mas, por vezes, caia que nem um pato noutros negócios. Foi o caso da compra do cavalo do Belmiro Soitenho, cavalo valente parecido ao cavalo da fama que comprara em tempos ao Zé Menina, que até o padre Correia transportou várias vezes até Rendo. Teve um mau fim. Habituado a puxar carroça nas mãos do Zé Menina, não aguentou a carga de fazenda que meu pai lhe colocava no dorso. Abriu uma ferida. Como não o levou ao veterinário, mas tão só quando estava nas últimas, a mando do veterinário, foi abatido a tiro. Jaz em Estremoz.
Veio uns dias depois o Belmiro lamentar-se que estava arrependido de ter vendido o cavalo, que a mulher estava zangada com ele por isso, etc., etc. Não quis meu pai chatices e devolveu-lhe o cavalo. Veio um cigano propor-lhe outro. Comprou-o, mas não prestava, que nas mãos dos ciganos os animais até ressuscitam. Foi o que aconteceu com o macho que acompanhou meu pai durante muitos anos no negócio, puxando a carroça. Já velho, foi ficando na loje, sendo preciso levantá-lo, com a ajuda de um grande pau, que acabou por feri-lo. Condoído, meu pai dá-o a um cigano. Pois não é que, daí uns dias, o vê a correr como novo!
Outro mau negócio foi feito com um comprador de cavalos, de Salgueiro do Campo, a terra do Manel Agusto. Vende-lhe uma égua por três contos de réis. O homem pede-lhe que lha deixe levar a crédito, que lha pagará dentro de dias. Acede meu pai. Asneira.
Nunca mais viu o dinheiro nem a égua!
E a mãe longe da terra, onde no Lar haverá quem dê injecções aos internados, uma boa parte dos quadrazenhos vivos, ou a outros, também ela enquanto internada num Lar na Cabeça Gorda, para os lados de Torres Vedras, até completar noventa e seis anos, ainda lúcida, mas numa cadeira de rodas ou acamada, que as pernas deixaram de funcionar de todo, foi a Intioneta que precisou quem lhe desse injecções, embora as evitasse o mais possível.
Em casa de ferreiro, espeto de pau!
Notas:
Agusto – Augusto.
Balhar – bailar.
Balho – baile.
Balila – Maria.
Bobas – doces.
Cambos – picota.
Carbunco – carbúnculo.
Chão – terreno de cultivo.
Deitar o poço – tirar a água do poço para regar.
Descobrir o carrego – descobrir o que alguém fez.
Détor, dótor – doutor.
Escarrapanchar-se – sentar-se com as pernas abertas.
Escrufuloso – escrófulas.
Farrém – ferrã.
Flanchão – o que promete o que tem e o que não tem.
Inda – ainda.
Intioneta – Antonieta.
Loje – parte inferior da casa para os animais.
Mão – irmão.
Nalga – nádega.
Zabelinha – Isabelinha.
Hola amigo Franklin! espero te recuerdes de mi, el medico de Laboratorio Clinico de la Habana, perdi tu email y espero por esta via podamos contactarnos de nuevo y hablar un poco mas. Saludos desde la Habana, Pedro Manuel mi email es peterkaminero@aol.com
O to borrega(era meu tio ) foi para Angola e o que foi para Franca rRui augusto gomes correia também .É pena nao falar dos que vieram para Tomar como o meu pai .Tenho uma tia Zabelinha Isabel Augusta gomes correia que vive em Lisboa.Tive uma tia Odete augusta gomes que casou com um Cipriano e vivivam em Coimbra .O meu pai nasceu em 39 de janeiro de 1928 e era conhecido por Maneco