São tantas e tais as mudanças na vida das gentes do interior, especialmente da raia e mormente em Quadrazais, que vale a pena recordar como era a vida em Quadrazais nos primeiros sessenta anos do século passado e estabelecer uma comparação com os anos que se seguiram, sobretudo os actuais.

VII – Como será Quadrazais no futuro?
Não sou adivinho. Mas será fácil prever o que será Quadrazais dentro de 15 a 20 anos. Se não houver uma guerra em França ou noutras partes em que haja quadrazenhos em quantidade significativa que os faça regressar à terra natal, como aconteceu com os retornados de Angola e Moçambique, Quadrazais terá cada ano mais velhos, com o Lar sempre cheio, nem que seja com velhos de outras terras.
Gente em idade de trabalho cada vez será menos. Crianças nascem muito poucas. As casas cada vez mais ficam fechadas. É nítido que cada vez mais cairão degradadas, que cada vez menos virão a Portugal os descendentes dos proprietários, cada vez menos se fixam esses descendentes na terra de seus pais ou avós e, portanto, a população continuará a diminuir.
Provavelmente, em 2021, aquando do novo Censo, em vez de 457 apenas residirão à volta de 370 e em 2031 provavelmente serão 250. E isto tendo em conta que esses números englobam os do Ozendo. Será que em 2041 serão mais de 100 os residentes? Sem renovação por novos, podemos imaginar que haverá ruas sem qualquer casa habitada e os residentes ficarão isolados uns dos outros por autênticas quintas.
O futuro o dirá, mas não vejo maneira de repovoar Quadrazais, apesar de recentemente já se ter fixado lá uma rapariga do Sabugal, uma senhora do Soito, que até comprou duas casas, e um casal jovem com uma filha, ele de Sortelha e ela de Nespereira. Virão residir aí refugiados sírios ou iraquianos? O mais certo é que os ciganos, que se propagam aos quatro e cinco por casal, venham a dominar Quadrazais, sem continuarem as tradições desta terra que os acolheu.
Ainda haverá padres para dizer missa e fazer enterros?
As festas, mormente a de Santa Eufêmia, terão mordomos que lhes sirvam e façam a festa? Os campos serão cultivados? Ou cada vez mais crescerão os matos e a bicharada? Ainda haverá algum comércio ou taberna onde se possa comprar algo? Haverá gente suficiente para continuar a haver passageiros para a camioneta da carreira?
E o Lar? Continuará com gente? Haverá algum pedreiro ou outro profissional para fazer reparações?
É urgente que os governos tomem medidas que levem ao repovoamento do Interior, criando condições quer para o escoamento dos produtos que possam produzir, quer pelo aconselhamento sobre que produzir. Outra medida seria criar propriedades de média dimensão, isentando de pagamento de escrituras e registos dos emparcelamentos ou compras de terrenos que confinam com outros já do comprador, ainda que por determinado período. Hoje compra-se um pequeno terreno por 200 ou 300 euros, mas tem de se pagar 190 ou mais euros pela escritura e mais outros 200 ou 300 euros pelo registo, para além do IMT. Ou seja, paga-se mais pelas custas que pela compra. Claro que os prováveis compradores não lhes pegam, apesar de pagarem ninharias por eles. A criação de gado e a floresta são bens que podem ser desenvolvidos. Basta que haja rentabilidade, isto é, quem compre os produtos derivados e a preço razoável, que dê para os moradores viverem decentemente.
Voltar ao passado já não é possível, porque o tempo não volta para trás. A cultura, porém, poderia, em parte, ser mantida. Há tradições que vêm sendo restauradas ou não deixaram perder, como: o madeiro, o presépio, as albíxaras à Mãe de Deus no Sábado Aleluia, ir a casa dos mordomos e algumas mais. No entanto, há outras que poderiam não fazer esquecer, como é o caso da Gíria, certas orações, lendas, superstições, etc.
Leave a Reply