Sou de sonhos e vivo rodeado deles. Nem sempre os desejos me cabem no tempo.

A liberdade, para mim, é vida. Falo de uma liberdade vivenciada, às vezes, sofrida.
Quando escrevo, converso com quem lê, convido com o texto e tento encontrar maneiras de implicar o leitor. Frequentemente proponho reflexões saindo do informe quotidiano reiteradamente desagradável.
Exprimo-me com palavras pessoais e espontâneas. Observo e descrevo a minha realidade sensibilizando-me com ela. Não primo pela plausibilidade. O racional não faz beleza. A montanha que aflora do horizonte e se expõe, nuamente, aos olhos é que é bela e não o fundamento da sua existência. Sempre que a razão explica, a beleza esmorece.
Hoje venho falar de uma felicidade peculiar. Refiro-me à euforia de, todos os dias, poder ver a Serra da Estrela. Uma Serra sempre diferente. Há alturas em que a névoa transparecida a exalta ou o nevoeiro denso a agasalha. Outras há em que o sol a doura. Há ocasiões em que a neve a alveja. Algumas vezes a chuva castiga-a e o vento empurra-a. Mas o que mais me atrai, entre tudo, são os tons em permanente mutação. Quem poderá dizer que a Serra é estática?!
A Guarda, cidade onde vivo, coloca-se ao lado da Estrela, a novecentos metros de altitude e, daí, espreito a montanha a erguer-se de beleza. Assim repouso a alma. Os picos dos montes são atributos que indiciam a proximidade do Céu.
Chegar à Guarda é subir a montanha e encontrar um povo de vida austera. Escalando a urbe, o olhar pode alongar-se a nascente ultrapassando o Jarmelo até à distancia cinzenta das cordilheiras espanholas. Mas, mesmo ao lado, patenteia-se a Estrela.
O ambiente da cidade dá as boas vindas informando solenemente que se está num lugar conquistado onde as lutas impuseram pessoas de diferentes origens. E a vida subsiste nesta terra em que a energia da Serra se concentra e sustém.
A Guarda é um lugar muito especial que necessita de olhos atentos e atitudes esmeradas que permitam enxergar a ponta da esperança. Ainda há um caminho a seguir pelos cidadãos da terra ou por ela adotados. Uns e outros se caracterizam pelo amor à Serra e a Serra lê-se nos olhos de todos.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011.)
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