:: :: CONGRESSO DO FORAL DO SABUGAL :: :: O segundo dia da cimeira sabugalense, realizada há 20 anos, prosseguiu com a intervenção de José Manuel S. Louro, que abordou o tema «Valores da natureza e da arte».
José Manuel S. Louro nasceu no Sabugal. Estudou em Braga, na Guarda e em Coimbra onde obteve a Licenciatura em História. Dedica-se ao ensino, estando actualmente radicado em Guimarães. Foi membro fundador da Cooperativa de Teatro e Poesia “Aquilo”, sediada na Guarda e coordenou, de parceria com Américo Rodrigues, a 1ª Série de Cadernos de Poesia Aquilo.
Transcrevemos a intervenção de José Manuel S. Louro:
VALORES DA NATUREZA E DA ARTE
Agradeço o convite da Casa do Concelho do Sabugal, o qual me honra mas só posso atribuir à amizade, nanja à minha competência como conferencista.
O tema que me foi proposto exige que faça uma prévia e breve reflexão teórica. Antes de mais convém perguntar: Afinal o que é a Natureza? De que tratamos quando falamos de Arte?
Os tratados científicos e as enciclopédias debruçam-se longamente sobre os dois conceitos para concluir que são por demais complexos e abrangentes. Ao termo Arte a enciclopédia Luso Brasileira dedica nada menos que 10 páginas e a Natureza é definida como um dos conceitos mais complexos e difíceis de explicar.
Porém, parece desde logo que é em torno do homem que as duas realidades, natureza e arte, circulam, ou como dizia Protágoras, o homem é a medida de todas as coisas. Parece-me que a natureza não faz sentido sem o homem. Estou convencido que o homem é o único ser natural que produz arte, na medida em que só ele é capaz de atribuir um sentido às coisas.
Talvez possamos concluir, do que fica dito, que a tarefa que me propuseram é por demais difícil para a minha grande e reconhecida ignorância.
De qualquer modo e pedindo a vossa paciente clemência, gostaria de fazer duas ou três reflexões sobre Os valores da Natureza e da Arte no Concelho do Sabugal.
I – OS VALORES DA NATUREZA
Por me parecerem mais significativos escolhi neste capítulo dois ex-libris do concelho: a serra da Malcata e o rio Côa e um terceiro por estar relacionado com o capítulo da água e me parecer também interessante: as águas termais.
1 – A Serra da Malcata
Os olhos espantados de um rapazinho recordam ainda a Serra da Malcata e não se lembram senão de uma vastidão enorme: só mato rasteiro e ondas de verde intercaladas de castanho a contrastar com o azul luminoso do céu em dias de claro sol.
Só muito mais tarde aprendi que a serra era um viveiro buliçoso onde a vida se multiplicava em contínuo milagre de criação. Aos poucos dei-me conta que na serra habitava o maior carnívoro da Europa em vias de extinção – refiro-me naturalmente ao lince ibérico – e tive oportunidade, ainda estudante em Coimbra, de participar na campanha nacional para a sua preservação orientada pelo engenheiro Palma, actual presidente da Quercus. Penso aliás, que foi essa campanha “Salvemos o lince e a serra da Malcata“ a razão principal que motivou a criação da Reserva natural da Malcata. Mas, para além do lince, vim a descobrir que na serra coabitavam em perfeita harmonia variadíssimas espécies: os lobos, também eles ameaçados de extinção, os gatos-bravos, texugos, ginetas, saca-rabos, lontras, toupeiras de água, águias reais, águias cobreiras e de bonelli, açores, abutres negros, cegonhas pretas, felosas do mato, rouxinóis, toutinegras, carrasqueiras e chapins, e isto para referir apenas alguns.
Às vezes, consoante as estações do ano, via a paleta de cores mudar e sabia que não haveria pintores, nem tintas que chegassem para tanto espaço e tamanho deslumbramento; e fui aprendendo os nomes das plantas: carqueja, urze, rosmaninho, erva das sete sangrias, beladona, torga erva de São roberto, e depois descobrindo as árvores de maior porte que bordejavam o Bazágueda: choupos, amieiros, faias, e outros recantos da serra onde medravam medronheiros, carvalhos negrais, castanheiros. Mas a história da serra é a história dos homens e estes quiseram modificá-la, e em parte destruí-la, quase se não dando conta: a plantação de árvores não nativas – como o eucalipto e a pseudotsuga – a caça desregrada, (sempre ouvi histórias das batidas ao javali, as mais célebres organizadas pelo dr. Framar e legadas em livro) as queimadas dos pastores para fazer crescer os pastos, as campanhas do trigo no tempo de Salazar, a produção de carvão e outras, contribuíram, cada uma a seu modo e umas mais que outras, para modificar e alterar a serra, sem contudo esta perder muito do seu encanto e beleza que hoje, apesar de tudo, ainda ostenta. O desafio de hoje é preservá-la e divulgar os seus encantos rentabilizando esta mais valia do concelho.
2 – O rio Côa
O Tejo é o mais belo rio que corre pela minha aldeia
mas o Tejo não é o mais belo rio que corre pela minha aldeia
porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
(… )
O Tejo desce de Espanha
e o Tejo entra no mar em Portugal
toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
e para onde ele vai
e de onde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente
é mais livre e maior o rio da minha aldeia.
(…)
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Os versos do heterónimo de Pessoa, Alberto Caeiro, e o livro de Carlos Alberto Marques intitulado A Bacia Hidrográfica do Côa, dizem mais, muito mais do que aquilo que posso dizer sobre o rio que corre na minha terra.
Já lhe chamaram rio sagrado a este curso de água que do sítio de Sortelha onde nasce, na serra de Xalma, até à foz, atravessa oito concelhos e calcorreia, ora manso ora irado, 140 Km antes de desaguar no Douro.
O Côa ou a Côa como muitos dizem, é um rio nos tratados de geografia e uma ribeira no linguarejar do povo e aqui o feminino só pode estar relacionado com um culto de fertilidade: a ribeira é mãe, fertiliza os campos por onde passa. A propósito de fertilidade todos sabemos que, no concelho, os terrenos mais úberes e produtivos são precisamente as veigas e devesas junto ao rio. Apesar do clima rigoroso, ou também por isso, são de grande qualidade as forragens dos lameiros ribeirinhos ao Côa, e penso que ninguém desconhece que a batata do concelho, a par do feijão vermelho são dois produtos de primeira qualidade, dos melhores que se produzem no país. (Já tive o grato prazer de degustar à mesa, de pelo menos um restaurante fora do concelho, um pernil de porco acompanhado com feijão vermelho do Sabugal, referência que constava na lista).
Do Côa podemos dizer que já foi um dos rios menos poluídos da Europa, e já o não é. Já foi um dos melhores rios truteiros do país e começa a deixar de sê-lo. E, meus senhores, é pena que assim seja! Temos de ter consciência de que já se perderam algumas batalhas, porém a guerra ainda não está perdida se, como tem vindo a fazer, a Câmara Municipal continuar a desenvolver o trabalho de recuperação do rio limpando, desassoreando, recuperando pontões e açudes e sobretudo acabando com as ligações de esgotos ao rio. Mas também temos de ter consciência que um trabalho desta natureza e envergadura só é possível se todos individual ou colectivamente dermos uma ajuda. Se isso acontecer poderemos dizer o Côa é o mais belo rio que corre na Beira, porque é o mais limpo e corre na minha aldeia. Sobre o rio Côa, gostaria de terminar dizendo que mais importante do que discutir à mesa do café, ou até mesmo em lugares públicos como tem bastas vezes acontecido na Assembleia Municipal, ou até criar associações em sua defesa e não passarem do papel, mais importante é amá-lo e proceder de acordo com tudo o que esta atitude implica.
3 – As águas termais
Ao correr da pena, e no capítulo da água, queria deixar duas palavras sobre as águas termais do concelho.
Como é do conhecimento de todos existiram no concelho duas estâncias termais: as Águas Radium e as Termas do Cró. Sobre as Águas Radium queria deixar aqui a nota, colhida no Guia de Portugal, de que no Congresso Hidrológico de Lyon de 1927, estas águas nascentes das fontes do Chão da Pena, Favacal e Malhada, foram consideradas, segundo a análise do Prof. Charles Lepierre, as mais radioactivas do mundo. São águas especialmente aconselhadas para tratamento do ácido úrico, vulgo gota, e doenças de coração. Deixaram de funcionar, mas penso que actualmente se encontram em fase de recuperação e, onde existia o antigo balneário e o hotel, irá nascer um complexo turístico já em construção. Oxalá a iniciativa frutifique rapidamente.
As águas do Cró, na freguesia de Rapoula, são sulfúreas sódicas e aconselham-se para o tratamento de dermatoses e reumatismo. Segundo o Guia de Portugal, em 1940 estavam inscritos nas termas nada menos de 332 pessoas. Actualmente a Câmara Municipal tem vindo a desenvolver esforços no sentido da sua reabilitação, uma vez que as construções existentes, salvo a capela, foram alvo de destruição logo após a Revolução de 25 de Abril.
Fazemos votos para que a empresa tenha sucesso, o que não será difícil , uma vez que assistimos, em Portugal e na Europa, a uma vaga de fundo à procura de turismo termalista, e , quem sabe, se não poderá chegar ao concelho.
II – OS VALORES DA ARTE
De um modo breve gostaria de falar de alguns valores da arte enquanto património – chamemos-lhe assim – e de alguns valores individuais, de pessoas que produzem arte e são do concelho.
O conceito de arte é tão amplo, como já tivemos oportunidade de referir, que nos permite muito divagar, a ponto de Thomas Bernhard escrever “a melhor arte de todas é a pastelaria”.
1 – A Arquitectura
O curso do tempo permitiu aos homens construir no concelho castelos, pelourinhos, igrejas, capelas, alguns, poucos, conventos ou mosteiros, solares, palacetes e naturalmente casas de habitação. Em termos arquitectónicos a melhor arte do concelho é religiosa e militar. A arquitectura civil é relativamente pobre, podemos no entanto destacar um que outro edifício em Sortelha, no Sabugal, em Vilar Maior, no Casteleiro e pouco mais. É caso para dizer que a aspereza do clima e a pobreza do solo nunca foram alvo da cobiça dos poderosos! Do património construído, e falo sobretudo dele por ser, a meu ver, a face mais visível da arte no concelho, algum já embarcou na voragem do tempo, outro precipitou-se às mãos rapaces dos homens, restando o que quase todos conhecemos. Para dar apenas alguns exemplos do que já desapareceu ou está em ruína: quem se lembra da igreja de Santa Maria do Castelo, no Sabugal? Onde pára o pelourinho do Sabugal, ou o que dele resta? Em que estado se encontram as muralhas e castelos de Alfaiates e Vila Touro? E o convento de Sacaparte aguentará outro Inverno?
Apesar de tudo, são dignos de nota no capítulo da arte militar: o castelo do Sabugal, ao que julgo saber, único em Portugal, (suponho que terá existido um em Évora mas foi destruído!),o castelo de Sortelha e a vila intra-muros que valem como um todo arquitectónico singular e invulgar no país, atendendo ao estado de conservação, podendo nós dizer que é a verdadeira jóia do concelho, o que resta do castelo de Vilar Maior.
Na arquitectura religiosa, sem dúvida a mais abundante no concelho, referiremos apenas, por nos parecerem mais importantes, a capela românica de Alfaiates, a igreja de Sortelha com seu tecto de arte mudéjar (de influência árabe, portanto) e único no concelho, a igreja da Misericórdia do Sabugal onde se conservam algumas imagens de santos dignas de registo. Temos consciência que todas as igrejas e capelas do concelho, e são muitas, merecem uma visita – até as mais recentes como a do Baraçal – porém não poderíamos estar aqui a referi-las todas. Gostava de chamar a atenção para a igreja do Escabralhado, que visitei recentemente, e, apesar de pequena me fascinou, não só pelos santos, alguns de reduzidas dimensões, como pelas pinturas que observei nas paredes, embora um pouco degradas já. Bom era que se fizessem umas obras de restauro.
Os mais curiosos poderão recorrer ao livro de Joaquim Manuel Correia, Terra de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal, onde encontrarão magistralmente contada a história do concelho. A 1ª edição é de 1946, mas a Câmara do Sabugal fez uma reedição facsimilada e penso que estão disponíveis alguns exemplares. Já que falamos em monografias gostaria de referir que algumas aldeias do concelho foram já objecto de estudo, tenho conhecimento das de: Sortelha, Vila Touro, Soito, Alfaiates, Vilar Maior.
Um estudo a merecer atenção é a História da Diocese da Guarda de Pinharanda Gomes, além de outros estudos do mesmo autor. Manuel Leal Freire dedicou também algumas páginas ao concelho num livro já antigo, intitulado Por Terras do Sabugal. Outros estudos haverá, de alguns temos conhecimento, sobre vários assuntos do concelho: estou a pensar na obra de Franklim Braga sobre a gíria de Quadrazais, num estudo antropológico sobre o Baraçal de Domingos Nabais, etc.
2 – A escultura
A escultura no concelho, tirando as imagens de santos, é praticamente inexistente. Olho para o meu concelho, a começar pela sede, e lembro-me apenas de um busto em bronze, à memória de Camões, em Malcata, oferta de um emigrante da terra; enxergo uma estátua simbolizando um emigrante em Vale de Espinho, estátua que esteve, e não sei se ainda está, engaiolada, é caso para dizer que as estátuas também têm direito à liberdade! Sei ainda de uma estátua colectiva em pedra, em Quarta-Feira, feita por iniciativa de um jovem escultor do concelho de nome Cruz Reis.
Apetece-me perguntar: para quando uma estátua a Joaquim Manuel Correia? ou a Carlos Alberto Marques? ou a tantos outros notáveis do concelho? Para quando uma estátua que recupere e recorde aos mais novos a memória colectiva do contrabando e dos contrabandistas?
3 – A Dança
A dança é uma arte que no conselho tem pouca expressão e, quando existe é tão só de cariz popular. Saúdo a propósito a criação, há uns anos, do Grupo Etnográfico do Sabugal, dos poucos ranchos folclóricos do concelho.
4 – A Música
Já conheceu melhores dias no concelho. Hoje existe uma que outra escola de música, de iniciativa particular e quase só de iniciação. Que saudades das bandas no coreto! Valha-nos ao de menos a Banda Filarmónica da Bendada que, contra ventos e marés, tem sabido resistir nobremente já lá vai, segundo penso, mais de um século.
5 – A Pintura
É outra actividade de reduzida expressão no concelho, apesar da louvável iniciativa da Casa do Concelho em Lisboa que, em conjunto com a Câmara Municipal, em boa hora lançou as Bienais de Artes. É de justiça afirmar que da iniciativa nasceu já o Museu de Arte Contemporânea do Sabugal.
Neste capítulo nem sequer nos podemos queixar da falta de talentos, são muitos os pintores do concelho. Tomo a liberdade de referir apenas a mais consagrada: Helena Liz. Os outros que me perdoem.
6 – O Teatro e o Cinema
O Teatro, tirando espectáculos esporádicos de grupos culturais ou escolares, é quase inexistente. Já lá vai o tempo dos autos religiosos e dos entremeses.
A Sétima Arte não respira saúde, também já lá vai o tempo em que havia uma sala de espectáculos, e também o tempo em que, por iniciativa de alguns sócios da Associação Cultural e Recreativa do Sabugal, se passavam pelas aldeias, logo a seguir ao 25 de Abril, filmes e documentários.
Brilha contudo uma luz no firmamento, refiro-me ao jovem realizador Joaquim Sapinho, nascido no Sabugal, que, logo com o filme de estreia , “Corte de Cabelo”, granjeou fama ganhando o favor da crítica e alguns prémios internacionais em festivais de cinema.
7 – A arte da escrita
Na arte da escrita é que os naturais do concelho mais se têm afirmado, embora quase todos e quase sempre fora do concelho. À cabeça referirei Pinharanda Gomes por ser o mais ecléctico e prolixo escritor do concelho, abarcando, nas suas múltiplas obras, temas como a história, a etnografia, a filosofia e revelando dotes de ensaísta logo no início da carreira das letras.
Na poesia e escrita para crianças é Manuel António Pina o mais destacado de todos. Poderia continuar a lista com autores menos conhecidos do concelho como a poetisa Helga Moreira, ou com autores pouco lembrados como o Padre Ambrósio que escreveu, sobre Almada Negreiros, um ensaio inovador e notável, poderia falar de muitos mais autores que, na arte da escrita, engradecem a terra que os viu nascer. Não o farei porque me parece que outro conferencista abordará o assunto e dele terá por certo melhor e mais profundo conhecimento.
8 – O Artesanato
É sabido que as artes estão relacionadas, na classificação tradicional, com os sentidos e, de entre estes se estabelece a distinção entre sentidos mais nobres: a visão e audição, e menos nobres: o olfacto, o gosto e o tacto. Convém dizer que não concordamos com esta hierarquização e por isso gostaríamos de deixar também uma pequena nota sobre outras artes.
O artesanato é uma das artes que está em vias de expansão, basta observar a quantidade de feiras de artesanato que se realizam no país, um pouco por todo o lado. No concelho tenho conhecimento de artesãos que trabalham o ferro forjado, no Soito e em Rendo, a tradicional palhinha ou junça, em Sortelha, a lã e tecidos bordados, a madeira, em várias localidades, e de outros que produzem objectos difíceis de catalogar. Gostaria de deixar aqui a referência para a Arte de confeccionar tapetes de Arraiolos, em Sortelha, segundo métodos e desenhos tradicionais, arte que é já, e justamente, reconhecida nacional e internacionalmente. Na impossibilidade de referir todos os artesãos, porque não os conheço a todos, – e já agora deixem-me dizer que era bom que se fizesse o levantamento das artes e ofícios tradicionais e respectivos artesãos do concelho – gostaria de falar em um de que gosto particularmente: o sr. Oliveira, do Soito, talentoso artesão que produz bonecos animados por um processo mecânico em várias situações do quotidiano. O seu trabalho merece o apoio de todos nós porque se trata de verdadeira arte e por essa razão aqui o citamos.
9 – A Arte da mesa
Por ser um tema que me é particularmente caro e se tratar de uma verdadeira arte, não podia deixar de referir a gastronomia. Neste capítulo muito haveria para dizer, à semelhança de outros aqui já referidos ao correr da pena. Poderíamos começar por convocar mestre Álvaro Cunqueiro e a sua “Cozinha Cristã do Ocidente”, onde o autor defende a teoria de que depois da arte da guerra, triste arte! dizemos nós, foi a arte da cozinha aquela que maior contributo deu para a humanização do homem. Porém, é forçoso deixar estas discussões para outra altura e prosseguir caminho para dizer o que todos sabeis: a arte da mesa, no concelho, está viva e recomenda-se! Em conversa de café tive, ainda não há muito tempo, a oportunidade de falar sobre o assunto com o sr. Presidente da Câmara e, dizia-me ele que, comparando com outros concelhos rurais do interior, no concelho existem restaurantes em abundância e qualidade.
Não estamos portanto neste capítulo muito mal servidos.
Passando às iguarias são famosos os coelhos, lebres e perdizes, o javali, o cabrito, e tudo o que o reco consente. Não há dúvida que os naturais do concelho são carnívoros, embora consintam à mesa, de quando em vez, uns peixinhos do rio sejam trutas, barbos, bordalos, bogas ou umas enguias que, por descuido, tropeçaram nos anzóis das cordas.
Para só referir alguns petiscos, porventura os mais divulgados e famosos, darei conta do coelho bravo à moda de Malcata, da perdiz abafada, do javali nos Foios, dos enchidos um pouco por todo o concelho, sem esquecer os queijos cabreiros curados na palha de que sou particular apreciador.
E por aqui me fico, que o tempo não espera por ninguém, e menos ainda o estômago que sempre reclama, como diziam os neo-realistas, o pão antes da cultura.
Perspectivas de futuro
Queria terminar, apelando um pouco mais à vossa paciência de atentos ouvintes, perspectivando um pouco o futuro.
É dado assente que os valores da natureza e da arte constituem uma mais valia do concelho que interessa divulgar e rentabilizar.
A divulgação pode e deve passar, por exemplo, pela elaboração de roteiros turísticos.
Sortelha é já um bom exemplo daquilo que o concelho pode oferecer, mas é preciso ir mais longe e, ao lado da arte, do património já existente, produzir outras manifestações culturais e recreativas: apresentar espectáculos musicais e de teatro, realizar exposições de pintura e fotografia, organizar concursos de jogo tradicionais e toda uma série de actividades paralelas que prendem os turistas ao concelho.
A rentabilização dos valores da arte pode e deve passar por apoiar iniciativas já existentes como é o caso da recolha de variadíssimos materiais de carácter etnográfico e histórico feita pela professora Delfina em Vilar Maior e que aguardam destino condigno. Porque não um museu etnográfico em Vilar Maior?
A rentabilização dos valores da arte passa também pela criação de infra-estruturas de suporte a materiais já existentes: para quando um Museu de Arte Contemporânea digno no Sabugal? Quadros já há, foram resultado de ofertas de alguns pintores que participaram nas Bienais de Arte organizadas pela Casa do Concelho do Sabugal, alguns são até valiosos, então estamos à espera de quê?
Temos todos, da forma que pudermos e da maneira que soubermos, de dar as mãos e lutar para que o futuro passe pelo concelho.
:: ::
«A História do Congresso», por Paulo Leitão Batista
Leave a Reply